sexta-feira, setembro 30, 2005

Leituras sobre as "Noites"

A cultura

PEDRO LOMBA

A primeira vez que eu percebi que havia algo de errado comigo, isto é, que eu não era de esquerda, foi no liceu, durante uma aula de História. Falava-se sobre a revolução de 1383-1385. A minha professora jurava que o Mestre de Avis era marxista. Não me parecia bem. Para mim, o Mestre de Avis podia ser muita coisa mas não, não era marxista. A partir daí comecei a desconfiar de tudo o que me diziam e, quando me recomendavam um livro, procurava primeiro referências para descansar. Isto vem a propósito do último debate "Noites à Direita - Projecto liberal" que, na semana passada, recaiu sobre as relações entre a direita e a cultura.

Pedro Mexia e Rui Ramos estiveram do lado da direita, António Mega Ferreira da esquerda e Manuel Falcão moderou. A conversa foi fascinante. O debate partiu, como não deixaria de ser, de uma afirmação recorrente quando se aborda o tema a esquerda aposta numa visão cultural do mundo e, por isso, na valorização das elites culturais, enquanto a direita pende para o economicismo e para uma sistemática desconfiança do chamado "mundo da cultura".

No final, esta tese "marxista" saiu desmistificada. Foi em grande parte por causa do comunismo e da durabilidade do comunismo no século XX que a pretensa hostilidade da direita à cultura começou a ser usada como argumento político contra ela. No século XIX ninguém se lembraria de dizer que os conservadores ou os monárquicos não liam livros, até porque as elites liam livros. Constant ou Chateaubriand, os românticos alemães, todos estiveram à direita. A distinção não se fazia. Foi o comunismo e a sua influência nos intelectuais das esquerdas que alterou drasticamente estas regras. Os intelectuais foram postos ao serviço de um processo de idealização política do mundo. Os intelectuais ao serviço de utopias. Quando estas faliram, os intelectuais voltaram para casa. Onde estão melhor.

No "Diário de Notícias" de hoje

quinta-feira, setembro 29, 2005

"Noites à Direita" na revista "Visão"

A esquerda nas Noites à Direita

António Mega Ferreira escreve hoje no seu espaço de opinião na revista "Visão" (não tem link para o texto) um artigo muito interessante onde resume parte da sua intervenção na última sessão das "Noites à Direita". É, obviamente, uma visão de esquerda sobre a direita e a cultura. Contestável, mas inteligente.

António Borges nas "Noites à Direita"

António Borges

Dia 18 de Outubro, António Borges é o orador convidado das "Noites à Direita.Projecto Liberal". Martim Avillez Figueiredo, director do "Diário Económico", é o moderador. Brevemente, serão anunciados o local, a hora e restantes convidados para mais uma sessão das "Noites à Direita", desta vez sobre "A Direita e a Economia".

Noites à Direita no "Diário de Notícias"

O príncipe Leopoldo

LUCIANO AMARAL

Faz hoje uma semana que, no Teatro S. Luiz, ocorreu um dos mais interessantes debates recentes sobre as relações da "direita" e da "esquerda" com a "cultura". Realizado no âmbito das Noites à Direita - Projecto Liberal, juntou à mesma mesa António Mega Ferreira (representante da esquerda), Pedro Mexia e Rui Ramos (pelo lado da direita), moderados por Manuel Falcão, e pecou apenas por terminar no ponto à volta do qual deveria ter girado a noite toda. Mas já lá iremos.

O ponto de partida da conversa foi um fenómeno intrigante por que razão a maior parte dos "agentes culturais" tem hoje tendência a ser de esquerda? Coube a Pedro Mexia dar o primeiro contributo para mostrar que nem sempre foi assim. Mexia não teve dificuldade em apresentar uma impressionante lista de inovadores artísticos do século XX, feita "à mesa do café" em poucos minutos, que ninguém hesitaria em considerar de "direita". Mas logo teve de alertar para algo que, na maior parte deles, não os recomendava: a sua antipatia pelo demo-liberalismo e correspondente simpatia fascista. Coube então a Rui Ramos dar o segundo contributo para a mesma ideia. Ramos notou que se poderia dizer o mesmo de uma lista equivalente para a esquerda: quase todos antipatizaram com o demo-liberalismo e namoraram o comunismo.

A razão por que o intelectual de direita tem sempre de fazer estes avisos, enquanto o de esquerda não, já nos conduz a explicar, pelo menos em parte, o mistério. Afinal, talvez devesse caber ao de esquerda o maior esforço: o fascismo foi um fenómeno europeu de curta duração (pelo menos de forma generalizada), o comunismo um fenómeno planetário, que ainda sobrevive e durante o qual se praticaram muitas mais barbaridades do que sob o fascismo. É provável que tudo isto tenha que ver com a forma como o fascismo desapareceu: o fascismo foi arrasado (depois de vertido muito sangue) por uma aliança entre o Ocidente de matriz liberal e o comunismo, o que transformou o antifascismo no grande consenso das sociedades democráticas contemporâneas.

A esquerda nunca sentiu, portanto, necessidade de expiar os seus fantasmas da mesma forma que a direita. É por isso que utiliza a autoridade de forma descomplexada. O que é verdade para tudo e, logo, também para o apoio à "criação". No que chegamos ao tal ponto essencial onde terminou o debate as relações entre o poder político e os agentes culturais. Como o fantasma de Hamlet a apontar o crime, a questão pairou sobre toda a conversa, mas só no final foi falada a sério. Não existe ligação mais antiga do que a do poder político com os artistas ou os intelectuais - Aristóteles e Alexandre, Velázquez e os Habsburgos, Bach e o príncipe Leopoldo. Pela sua própria natureza, a actividade artística raramente dispensa o poder, e o poder adora auto-glorificar-se através da arte. Quando Rui Ramos disse que o "Estado" quase nunca tivera, historicamente, responsabilidades face à arte, pois se trata de uma instituição recente, tendo a arte dependido de tantas outras formas de poder, estava a acertar e não estava. Ao perguntar-se: "O que tem Bach que ver com o Estado?", logo pareceu a Mega Ferreira que o tinha apanhado em falso: afinal, sem o príncipe Leopoldo, Bach nunca teria existido. Altura em que Mega Ferreira confessou ter passado a noite inteira com receio do momento em que lhe colocariam a questão do "príncipe". Isto é, a facilidade com que a esquerda adopta na cultura o "princípio do príncipe", quer dizer, a de- fesa do arbítrio e da discricionariedade do poder político na distribuição de meios para fins artísticos. Mega Ferreira estava, pois, a reconhecer que o mais difícil pelo lado da esquerda é explicar como é que o partido do "sonho" e dos "novos mundos" gosta tanto da autoridade estatal.

Eis, portanto, o ponto essencial. Que envolve um paradoxo sem sentir necessidade de expiar os seus fantasmas, mantendo, portanto, mais ou menos intacta a boa consciência de quem se afirma como guardião da "liberdade" contra o "autoritarismo" da direita, a esquerda não hesita em utilizar a mesma autoridade que (em teoria) tanto odeia para fomentar um ambiente cultural onde a sua mundividência surge como ponto de partida.

Como é evidente, só há uma solução para a direita: perceber que não tem o monopólio do horror, não tendo, portanto, por que sentir-se complexada. A direita cultural deveria de uma vez por todas contribuir para desfazer o consenso anti-fascista que tende sempre a empurrá-la para a tentação negra do fascismo e que, desse modo, limita o pluralismo político e cultural das nossas sociedades. Não para desdramatizar o fascismo, mas para mostrar que ninguém aqui é virgem e que o fascismo não é o único horror. Isto obrigaria a esquerda a um exercício de humildade, que a faria perder a sua arrogância moral. Desta forma, talvez essa direita perceba que, no corrente contexto, o seu é que é o lado da "liberdade", e que a "autoridade" está do outro. Eis, precisamente, o que pode constituir a base de um programa muito apelativo para a tal "ruptura cultural" que Mega Ferreira tanto defendeu ser apanágio da esquerda.

"Diário de Notícias" de hoje

quarta-feira, setembro 28, 2005

Leituras liberais

Tranquilamente

RUI RAMOS

A incapacidade da facção dirigente do PS para produzir um candidato presidencial à sua imagem é sintoma de fracasso. Ele ainda não avançou, mas já tem uma enchente de adversários à espera, nervosos, quezilentos, aos empurrões uns aos outros. Falo dos candidatos presidenciais que se propõem vencer o “candidato da direita”. Até agora, são seis: o da facção vencedora nas últimas eleições para secretário geral do PS; o da facção derrotada nessas eleições; o do PCP; o do Bloco de Esquerda; o do PCTP-MRPP; e o do POUS. Eis o leque da esquerda aberto em todo o seu esplendor sectário. Todos se dizem de esquerda, mas cada qual representa uma capelinha peculiar, ardendo em rancores arqueológicos contra as outras capelinhas. Todos prometem entrar disciplinadamente na procissão contra o “candidato da direita”, mas cada qual vai, por enquanto, fazendo o que pode para ver vacilar os outros andores.

Esta torre de Babel presidencial tem uma causa: o malogro do projecto da “esquerda reformista”. Inventada por Clinton e divulgada por Blair na década de 1990, essa esquerda perdeu na América, deixou de ter credibilidade intelectual em Inglaterra, falhou na Alemanha, e está a ser varrida pelo velho castrismo na América Latina. Na Europa, o descalabro do Estado Social e a ofensiva do terrorismo islâmico deixaram-na, em geral, confusa e desmoralizada. Em Portugal, a incapacidade da facção dirigente do PS, vagamente identificada com a “esquerda reformista”, para produzir um candidato presidencial à sua imagem e semelhança é um sintoma desse mesmo fracasso. Fatalmente, a mobilização eleitoral das esquerdas vai assentar no medo às “reformas”, e na identificação do “candidato da direita” com essas “reformas”. Desse modo, uma maioria presidencial de esquerda, dependente dos votos do PCP, do BE, do PCTP-MRPP, do POUS e da facção derrotada do PS, poderá sempre ser apresentada, com alguma razão, como um mandato para o imobilismo. As eleições presidenciais revelarão provavelmente aquilo que as legislativas de Fevereiro esconderam: que as esquerdas, neste momento, não têm condições para sustentar uma governação reformista que habilite e liberte os cidadãos para assumirem responsabilidades e criarem oportunidades num país de economia aberta e com uma demografia mudada.

Contra candidatos de facções, explorando o sectarismo e o medo, convinha ao país que surgisse um candidato independente com uma visão tranquila das reformas. Pelas razões expostas acima, um candidato desses, neste momento, só pode erguer-se à direita das esquerdas. Um candidato independente não quer dizer um candidato metafísico, neutral nos debates, mas um candidato livre de facturas partidárias e capaz de ultrapassar velhas incompatibilidades. Às esquerdas, neste momento, não há ninguém assim. O candidato aceite pela facção dirigente do PS, pelo modo como apareceu, não é hoje um ex-presidente, mas apenas um ex-secretário geral do PS.

Os candidatos das esquerdas justificam o seu fraccionamento pelo combate à abstenção. Não se deve subestimar essa estratégia. Um candidato à direita dessas esquerdas precisa, também ele, de mobilizar. As esquerdas vão explorar o medo que as reformas inspiram a quem, por enquanto, vive num artifício suficientemente confortável para pensar na mudança como uma perda. Nada alimenta tanto o medo como o desconhecido e a impostura. Um candidato contra o medo deve explicar e ser franco. Deve tranquilizar, porque só a tranquilidade levará os cidadãos a novas experiências. Esperemos que, contra os seis cavaleiros do medo e do sectarismo, esse candidato apareça. Aparentemente, já há uma pessoa. Só não sabemos ainda se há também um projecto e a consciência do que é necessário fazer. Será preciso aguardar. Tranquilamente.
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Rui Ramos é historiador, professor universitário e assina esta coluna semanalmente à quarta-feira no "Diário Económico".

segunda-feira, setembro 26, 2005

"Noites à Direita" no Google

Para consultar aqui, aqui e aqui.
Lembro que antes da última iniciativa das "Noites à Direita", quando se colocava no Google a frase "A Direita e a Cultura" ou "Direita e Cultura" apenas apareciam dois resultados.
Sintomático.

[Paulo Pinto Mascarenhas]

quarta-feira, setembro 21, 2005

"Noites à Direita" no "Diário Económico"

A guerra da cultura

RUI RAMOS

Entre tanta coisa que dizem ter faltado a Angela Merkel, para além do carisma e da sorte, há quem acrescente a “cultura”. Entre tanta coisa que dizem ter faltado a Angela Merkel, para além do carisma e da sorte, há quem acrescente a “cultura”. Foi o que fez, há um par de semanas, Gunther Grass. Não é só no Terceiro Mundo que o Nobel da Literatura confere um mandato para pregar à nação. Na Alemanha, segundo Grass, a eleição teria sido uma batalha entre a “cultura” e o “economicismo”. É um ponto de vista curioso. No princípio do século XX, a Alemanha era gozada, em Inglaterra e em França, como o país da “Kultur”. Então, eram os conservadores quem invocava a “cultura” para explicar que a Alemanha não podia ser uma democracia liberal. Hoje, são os “progressistas” que o fazem para argumentar que à Europa está vedado o caminho do mercado.
É verdade que Grass não se estava a referir à cultura no sentido antropológico, mas no sentido burocrático: as actividades de lazer e formação controladas, na Europa, pelos ministérios da cultura ou educação. De facto, Merkel não pôde contar com o aplauso de tantas celebridades subsidiadas como o chanceler Schroeder, nem exibir, como este, a glória suprema de ter fundado o ministério federal da cultura. Haverá aqui uma diferença importante entre as esquerdas e as direitas? Uma parte da nossa direita prepara-se para discutir o tema. Será amanhã, quinta-feira, às oito e meia da noite, no Teatro S. Luís, com a ajuda de António Mega Ferreira.
Há gente à direita, como Paul Johnson, que experimenta um prazer perverso em tratar os “intelectuais” com a mesma indignação furiosa com que a esquerda socialista trata os presidentes americanos. Mas os marxistas, nos seus tempos de glória, eram capazes da mesma iconoclastia anti-intelectual. O mês passado, a morte do historiador Maurice Cowling levou alguns dos líderes do Partido Conservador inglês a confessar o que deviam a esse velho guru académico. Afinal, até as direitas têm intelectuais. Mas talvez mais discretamente.
A diferença entre as esquerdas e as direitas é, apesar dos alarmes de Grass, sobretudo mitológica. A falta de dinheiro faz qualquer socialista racionar subsídios, tal como o desejo de propaganda transforma o mais mesquinho conservador num mecenas excessivo. Em Portugal, no século XX, foram as direitas nacionalistas quem, em primeiro lugar, imaginou o aparato daquilo a que Marc Fumaroli chamou o “Estado Cultural”. António Ferro, e não Jack Lang, é o verdadeiro antepassado dos nossos actuais mecenas do orçamento. Em França, o ministério da cultura foi criado por De Gaulle, cujos herdeiros têm hoje um poeta à frente do governo. De resto, nas eleições portuguesas de Fevereiro, a “cultura” mal permitiu distinguir entre partidos: quase todos prometeram reduções do IVA, a afectação de uma percentagem do PIB, etc. Podíamos discutir as vantagens deste proteccionismo. Mas há um ponto mais importante.
Sem Grass, Merkel perdeu. Mas com Grass, Schroder não ganhou. Uma mascote literária não chega. A cultura, em política, deveria ser mais do que dar para o peditório das artes. A cultura deveria ser o nome da política quando vai para além das manobras e das promessas avulsas, e assenta numa visão ética, na determinação de ligar os cidadãos entre si e levá-los a contemplar, sem medo nem egoísmo, outras possibilidades e novas responsabilidades. A política, parafraseando Jakob Burckhardt, pode ser uma obra de arte, uma actividade de criação e comunhão. É de políticos que sejam criadores de cultura que as nações europeias precisam, e não de imitações baratas de Jack Lang. Mas continuaremos a discussão amanhã, no S. Luís.

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Rui Ramos é historiador, professor universitário e assina esta coluna semanalmente à quarta-feira no "Diário Económico".

"Noites à Direita" no "Diário de Notícias"

Direita e cultura

PAULO PINTO MASCARENHAS *

A propósito do anúncio de putativos apoiantes de Cavaco Silva e Mário Soares na corrida presidencial, o constitucionalista Vital Moreira escreveu no seu blogue (www.causa-nossa.blogspot.com) que o candidato do Partido Socialista "goza de uma inigualável capacidade de atracção no campo da cultura, das artes, da literatura". Capacidade, essa, acrescenta o professor de Coimbra, "que em muito supera o previsível maior apelo de Cavaco Silva entre empresários e gestores." Tais apoios seriam sintomáticos do "diferente perfil, humano e político, dos dois candidatos diz-me quem te apoia, dir-te-ei quem és".
Descontando o facto de Vital Moreira ser também ele próprio um reconhecido apoiante de Mário Soares, a verdade é que as palavras citadas resumem em grande medida o modo como os políticos de direita - ou os que podem ser considerados como tal - são analisados na sua relação com a cultura.
O espírito humanista e letrado do principal candidato de esquerda estaria em confronto directo com o perfil economicista e meramente contabilístico do candidato de direita - ou, repito, como tal entendido, já que o próprio prof. Cavaco Silva terá dúvidas fundamentadas sobre esta definição política. A imagem desfocada, apesar de poder parecer caricatural, é em larga medida o quadro impressionista que muitos comentadores continuam a pintar da direita em Portugal. A cultura é considerada por alguns como um condomínio fechado da esquerda mais de 30 anos depois do 25 de Abril. Compreende-se que esta fotografia a preto e branco pudesse ser tirada pouco depois da Revolução. Nem que fosse em razão do passado de luta contra a ditadura deposta, porque as actividades culturais serviram durante largos anos como uma plataforma da oposição democrática - e das esquerdas - ao regime salazarista. Mesmo tendo em conta as mudanças significativas registadas sobretudo nas duas últimas décadas, persiste a dificuldade objectiva de acumular o estatuto de intelectual ou agente da cultura com a opção política de direita. Dito de outra forma, são inúmeros os intelectuais que assumem publicamente o apoio a ideias, partidos ou candidatos de esquerda - ou mesmo da extrema-esquerda. Contam-se porém quase pelos dedos de uma mão os que se afirmam de direita.
Correndo o risco de algum simplismo, ser de esquerda ainda não passou de moda. Apesar de tudo o que a queda do Muro de Berlim e a informação entretanto felizmente tornada histórica permitem saber. Apesar do que foram os regimes comunistas de Leste e das verdadeiras atrocidades que se praticaram em nome de valores ditos de esquerda, nomeadamente da igualdade entre os homens. Apesar de Cuba, Coreia do Norte, Tiananmen, muitos preferem dirigir o furor intelectual contra uma das maiores e mais livres democracias do mundo, os Estados Unidos. Provavelmente por serem presididos por um político que não é de esquerda.
As críticas são obviamente legítimas e a opinião é livre. Falta saber e é importante discutir se, em grande parte, não cabe à direita a responsabilidade pela larga difusão de tantos lugares-comuns. Se não é a própria direita que se tem esquecido de pensar a cultura, de agir culturamente, de sair da máscara de ferro em que a tentam encerrar.
Os promotores das "Noites à direita. Projecto liberal" defendem que essa culpa não pode continuar a morrer solteira. Por isso mesmo, depois de termos debatido em Julho com Vicente Jorge Silva a relação entre "A direita e a liberdade", marcámos para quinta-feira às 20.30 uma conversa aberta e pluralista sobre "A direita e a cultura", a ter lugar no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa.
Outros debates irão surgindo. António Mega Ferreira é, desta vez, o ilustre representante da esquerda, enquanto Pedro Mexia e Rui Ramos intervêm pela direita - ou, se assim o entenderem, pelas direitas, porque o que não faltará certamente serão opiniões diferentes.O leitor, que teve a amabilidade e a paciência de ler estas linhas até aqui, pode e deve também dizer de sua justiça, porque é o nosso convidado principal.* Promotor das "Noites à direita. Projecto liberal"

No "Diário de Notícias" de ontem

terça-feira, setembro 20, 2005

"Noites à Direita" n' O Independente

Cultura À Direita

MANUEL FALCÃO

A opinião dominante entre boa parte da Esquerda é a de que a Direita é uma espécie de reserva ecológica de trogloditas em matéria cultural. E, em contrapartida, uma boa parte da Direita acha que a Esquerda só defende o que é incompreensível e apenas vive porque há subsídios. Enquanto o debate continuar neste pé a coisa dificilmente passará do estado pré-histórico. Por isso mesmo há questões a discutir sem preconceitos: o Estado deve cingir-se à manutenção do património , ou deve também fomentar e suportar a criação artística? A cultura tem que ser uma actividade lucrativa? Podemos ou não alargar os incentivos fiscais nesta área? Devemos investir mais na criação de públicos ou na produção de obras? Como pode a criação ser fomentada? Qual o papel das autarquias neste quadro – devem ser complementares da Administração central ou devem ser alternativas?
A resposta a algumas destas perguntas é estruturante na definição de políticas culturais, um panorama que raramente tem sido debatido com seriedade. Peguemos no exemplo britânico do Arts Council e do seu programa «Own Art», um incentivo à compra de arte contemporânea de novos artistas, que garante empréstimos sem juros, de curto prazo, para a aquisição de pintura e escultura. De uma assentada fomenta-se o mercado, cria-se um canal de venda para artistas em começo de carreira, dá-se mais circulação de obras às galerias associadas e cria-se um novo hábito em novos públicos. Será este um caminho?
No regresso das «Noites à Direita» o debate é sobre política cultural e à mesa vão estar António Mega Ferreira, Pedro Mexia e Rui Ramos. É dia 22, pelas 20h30, no Jardim de Inverno do Teatro de S. Luiz - e o melhor é não ter ideias feitas.

Publicado na última edição do semanário "O Independente" e no blogue "A Esquina do Rio"

segunda-feira, setembro 19, 2005

Marque na sua agenda



















“Noites à Direita” tem o prazer de o/a convidar para participar no debate “A Direita e a Cultura”, pelas 20h30 do próximo dia 22 de Setembro, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa.

António Mega Ferreira é, desta vez o Agente Provocador de uma conversa sem sentido único mas virada à direita.

O Director do Canal 2: Manuel Falcão vai tentar moderar as vozes de Pedro Mexia, Rui Ramos e de todos os outros convidados presentes, incluindo a sua. Contamos consigo.

(Se quiser ser contactado para futuras iniciativas das “Noites à Direita” por favor envie o seu contacto para o endereço direita.liberal@portugalmail.pt ou deixe o seu comentário em http://www.direitaliberal.blogspot.com/)

Os promotores:
António Pires de Lima, Filipa Correia Pinto, Leonardo Mathias, Luciano Amaral, Manuel Falcão, Paulo Pinto Mascarenhas, Pedro Lomba e Rui Ramos.



quinta-feira, setembro 15, 2005

Leituras Liberais












«Continuamos preocupados com esta lógica de rectângulo, de concorrência interna, com empresas pequeninas a matarem-se umas às outras, em lugar de criarmos uma empresa forte e de abrirmos o mercado»
Entrevista com António Borges na revista "Visão".
A não perder.


VISAOONLINE 14 Set. 2005
Cada vez mais activo no PSD, não exclui a hipótese de vir a candidatar-se à liderança dos sociais-democratas. Sem esconder críticas à actual situação, mantém o discurso optimista sobre o futuro de Portugal. Mas mostra-se preocupado com «o regresso das cliques políticas ao interior das empresas» e ataca ferozmente os aparelhos partidários. «Hoje aceitamos gente que nunca deveria estar num cargo público, gente que deveria estar na cadeia e que continua aí com a mania de que ganha eleições», alerta. Na área económica, classifica de «contra-producente» a vontade de o Governo pôr a Galp a concorrer com a EDP na área energética. «Continuamos preocupados com esta lógica de rectângulo, de concorrência interna, com empresas pequeninas a matarem-se umas às outras, em lugar de criarmos uma empresa forte e de abrirmos o mercado», defende. Diz ainda que discorda frontalmente do primeiro-ministro José Sócrates quando este afirma que a prioridade externa é «Espanha, Espanha, Espanha» e recorda que «os erros económicos pagam-se com a perda de independência».

A POLÍTICA DA CATÁSTROFE

RUI RAMOS

Este ano, a natureza decidiu fazer os terroristas sentirem-se insignificantes. Depois do ‘tsunami’ da Ásia, em Dezembro, veio agora o furacão do Golfo do México. A propósito, discutiu-se muita coisa. Curiosamente, o debate tem sido igual ao que se seguiu a cada um dos esforços terroristas dos últimos anos. Como se já não fossemos capazes de distinguir entre a natureza e o Sr. Bin Laden. Nos EUA, o furacão deixou para trás os políticos de dedo apontado uns aos outros, no negócio de passar culpas. Pouca gente quis meditar nos riscos inerentes à urbanização de pântanos regularmente atravessados por furacões e apertados entre grandes massas de água com uma altura superior. Em vez disso, tentou-se determinar que parte do governo deveria ser punida nas sondagens de opinião. Para os Democratas, deveriam ser as autoridades federais, Republicanas. Para os Republicanos, as autoridades locais, Democratas. Os intelectuais de esquerda aproveitaram para acusar os “neo-liberais” (sempre eles!) de uma suposta falta de investimento nas infra-estruturas e menosprezo pelos pobrezinhos. A revista Time trouxe até um artigo em que, sem intenções cómicas, se responsabilizava um primeiro-ministro inglês da década de 1980, a Sra. Thatcher, pela inundação de Nova Orleães. Eis onde chega o longo braço do preconceito ideológico. A direita intelectual, que nos EUA vale alguma coisa, não se deixou ficar. Deplorou os empecilhos da burocracia, e denunciou o Estado Social, que teria amestrado a população apenas para ser vítima.

No "Diário Económico" de ontem.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Leituras Liberais

FRANCISCO MENDES DA SILVA

PRISA POR NÃO TER CÃO

A esquerda em geral, filha do iluminismo continental, é, como se sabe, tremendamente ingénua. Isto no campo ideológico, uma vez que no plano político stricto sensu, no plano da conquista de poder, faz a direita corar de vergonha.
A indignação sonsa de Marques Mendes sobre a entrada da Prisa na Media Capital e as relações daquela com o PSOE e, por essa via, com o PS, demonstram que a direita não está disponível para jogar o jogo democrático em todas as suas dimensões (ou que, se o está, lhe falta a habilidade necessária para tal).
O jogo democrático, mais do que uma mera conquista circunstancial de eleições, é um combate permanente de valores e mundividências, de entendimentos sobre o homem e a sua natureza. E obviamente que nas sociedades democráticas, onde esse combate se faz pela persuasão e não pela opressão, a comunicação social tem um papel fundamental.
Deixando de parte os órgãos do serviço público (seja lá isso o que for), a sociedade civil politicamente empenhada (não necessariamente em partidos) deve promover a criação de jornais, televisões, rádios, sites, etc. que divulguem a sua maneira de ver o mundo e que combatam preconceitos. A Prisa e a TVI vão ser o cão de fila do PS? Pois que sejam. O que me entristece é esta direita assim: presa por não ter cão.

MARQUE JÁ NA SUA AGENDA














NOITES À DIREITA*
*
projecto liberal

SALA DE INVERNO DO TEATRO S. LUÍS

DIA 22 DE SETEMBRO, 20H30.

"A DIREITA E A CULTURA"

ANTÓNIO MEGA FERREIRA. PEDRO MEXIA. RUI RAMOS

Moderador: MANUEL FALCÃO

CONTAMOS COM A INTERVENÇÃO DE TODOS.

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promotores das "Noites à Direita": António Pires de Lima, Filipa Correia Pinto, Leonardo Mathias, Luciano Amaral, Manuel Falcão, Paulo Pinto Mascarenhas, Pedro Lomba e Rui Ramos

terça-feira, setembro 06, 2005

Leituras Liberais

Não existe Povo.
A arma do pobre é o Liberalismo

HENRIQUE RAPOSO

1. Ontem, no “Prós e Contras”, Helena Matos contou uma pequena mas perturbadora estória. Uma estória que ilustra, simbolicamente, a História actual de Portugal. Aqui fica: numa escola (ou numa região educativa) existiam 900 meninos deficientes. Uma comissão averiguou a situação e chegou à seguinte conclusão: apenas 70 desses meninos sofriam de efectivas deficiências. Então, por que razão havia tantos miúdos “artificialmente” deficientes? Resposta: os meninos deficientes têm explicações de borla… Ou seja, várias centenas de pais obrigam os seus filhos a “passarem-se” por deficientes para receberem explicações grátis.

2. Eis o pior do estado social. Em situações deste tipo, os portugueses têm a tendência para criticar apenas as pessoas. E estas pessoas devem ser, de facto, criticadas. Mas nunca se aborda a base da questão. Por que razão as pessoas fazem aquilo? Porque podem. Simples. Não há nenhuma explicação metafísica transcendente ou teluricamente portuguesa (a chico-espertice não é monopólio português). O estado social permite estas trafulhices. O estado social, como qualquer concepção utópica, parte de um pressuposto que não existe na História real. O pressuposto angelical é este: O Homem é bom e honesto.

3. Mas a coisa é mais grave do que isso. Quem defende o estado social não fala em homens; não fala em indivíduos. A sua maneira de ver o mundo é mais... monolítica. É uma cosmovisão que não suporta as impurezas do mundo real; não suporta o pó daquele mundo feito por homens, aqueles seres que insistem em não ganhar asas. Não. A sua mundividência tem ser pura, una, perfeita no papel. Daí usarem o velho e unificador termo Povo. Uma massa anónima que nunca ninguém definiu muito bem. E sabem porquê? Porque o dito Povo não existe na realidade. É uma ficção ideológica. Um produto que serve de cobaia para aqueles que julgam ter o Bem.

4. Aqueles que usam o Bem são aqueles que cantam - encantados com a sua própria voz - a concepção optimista do Homem. Como se fossem santos na protecção de um rebanho inocente. Aqui, o Povo, o dito rebanho, tem de ser protegido dos homens maus – aqueles que não querem estar cobertos pela lã lamacenta da utopia. Na História, a Teoria optimista serve de legitimação para projectos centralistas, que, claro, são sempre liderados por uma elite, os iluminados, os filósofos-reis, aqueles que zelam pelo cumprimento do Bem. O Bem, o Optimismo, a Irmandade originam isto: alguns a dominarem os restantes em completo regime de impunidade.

5. E quando algo corre mal? Quando o Bem não funciona? Ora, a culpa nunca é do sistema, mas sim das pessoas que não o compreendem. Pois, é precisamente o inverso: aqueles que construíram o sistema é que nunca compreenderam os homens, logo à partida. Vivem viciados numa concepção de Homem, a sua. O Diogo B. Henriques, certa vez, colocou n' O Acidental um cartoon que resume na perfeição esta forma de estar. O cartoon visava a “Não” francês. No edifício da U.E., dois homens olhavam para baixo. Um diz: “nós até gostamos da Europa, não gostamos é destes europeus” (ou qualquer coisa assim).

6. Mais: a Justiça colectiva transforma-se em injustiça para o indivíduo. A dita moral do Bem colectivo transforma-se em amoral ao nível individual. Lá de cima, nas colinas da Utopia, nada se passa. Tudo parece que corre bem. O utópico só se vê a floresta. O utópico nunca desce da colina para averiguar o estado de cada árvore.

7. Nasci pobre. Até prova em contrário – pode ser que o meu cão descubra petróleo no quintal – serei apenas remediado. Sou uma das árvores que rejeita ser tratado como mera engrenagem de uma floresta mecânica e amoral. E digo para quem quiser ouvir: a arma do pobre é o Liberalismo. Porque não há Povo, mas milhões de indivíduos pobres que querem apenas uma coisa: mostrar o que valem numa sociedade que não seja aristocrática. O estado social criou uma rede de privilegiados dirigidos por elites de ferro. O estado social é outro ancien regime que será derrubado, mais cedo ou mais tarde, a bem (mudamos a tempo) ou a mal (esbarramos na parede e… a floresta incendeia-se), pelo liberalismo.
Indivíduos de Portugal, uni-vos.

segunda-feira, setembro 05, 2005

"A DIREITA E A CULTURA" EM SETEMBRO NO TEATRO S. LUÍS

1. A escolha do tema "A Direita e a Cultura" para a próxima sessão das "Noites à Direita. Projecto liberal" não foi inocente. Assumimos a provocação. Mais do que debater a presença do Estado na Cultura em Portugal ou a discutível relação entre os poderes públicos e os agentes culturais no nosso país – que serão certamente temas centrais em debate –, quisemos trazer a discussão sobre a Cultura para um espaço político e ideológico onde ela raramente se verifica – o espaço da Direita. Não foi certamente por acaso que se generalizou na linguagem portuguesa a designação "intelectual de esquerda" – como se não existissem igualmente intelectuais de direita ou se tratasse a Cultura de uma espécie de condomínio fechado, reservado apenas à Esquerda. A verdade é que existem intelectuais de Direita – sempre existiram, ao contrário do que muitos possam acreditar – e a Cultura não é uma coutada da Esquerda.

2. Muitos comentadores e críticos culturais de esquerda baseiam-se neste tão extraordinário como falso pressuposto: para eles, a Cultura não pode ser de Direita porque “é um conceito de Esquerda”. Para eles, a única área cultural em que a Direita manifesta alguma preocupação, quando ocupa funções executivas, é a do património edificado ou histórico, sendo apenas sensível à arte sacra, à pintura, à literatura e à música dos “clássicos”. Para eles, os políticos e as personalidades de Direita desconfiam das "artes vivas", como o teatro, as artes plásticas, a dança ou o cinema – para citar apenas opiniões expressas em artigos publicados na imprensa portuguesa. Falta saber – e é importante discutir –, se em grande parte não cabe à Direita, ou a quem se afirma como tal, a responsabilidade pela larga difusão e aceitação de todos estes lugares-comuns. Se não é a própria Direita que se tem esquecido de pensar a Cultura; se não é quem é de Direita que se tem esquecido de intervir culturalmente.

3. Não é fácil hoje em Portugal acumular o estatuto de intelectual ou agente da Cultura e a opção política de Direita. Mais: parece estar na moda ser de Esquerda e um intelectual de direita é quase olhado como se tratasse de uma espécie rara. Pode um intelectual, um cronista, um académico, um poeta, um pintor, um músico ou um jornalista assumir-se claramente de Direita sem por isso ser alvo da desconfiança de algum pensamento politicamente correcto? Ou, por outro lado, será que a Direita soube ao longo das últimas décadas aproximar-se daqueles que, estando situados politicamente à direita, conseguem ser simultaneamente autores ou agentes da Cultura em Portugal? Tudo indica que a resposta é negativa para ambas as questões.

4. Vulgarizou-se a ideia de ser cada vez mais necessário um “combate cultural” à Direita, assumindo-se publicamente que foi a quase total ausência desse mesmo combate que conduziu a Direita a recentes e severas derrotas políticas e eleitorais. Concordamos com esta opinião, mas defendemos também que a absoluta necessidade de um combate cultural protagonizado pela Direita não pode reduzir-se a meros cálculos oportunísticos ou de ocasião eleitoral. O combate, a batalha, ou mais prosaicamente o debate e a discussão à Direita sobre a Cultura é uma obrigação de quem, como nós, sabe como é importante pensar um País que precisa, mais do que nunca, de projectos e de ideias motivadoras para o futuro.

5. É por tudo isto que lançamos este tema para discussão no próximo dia 22 de Setembro, no Teatro S. Luís. Porque acreditamos sinceramente que em Portugal existem cada vez mais pessoas que se revêem numa Direita que sabe ouvir e quer discutir com quem tem espírito independente, seja de Esquerda ou de Direita, para poder avançar com novas propostas. Contamos consigo e com a sua intervenção.

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NOITES À DIREITA*projecto liberal

DIA 22 DE SETEMBRO, PELAS 20H30, NO TEATRO S. LUÍS

"A DIREITA E A CULTURA"

ANTÓNIO MEGA FERREIRA. PEDRO MEXIA. RUI RAMOS

CONTAMOS COM A INTERVENÇÃO DE TODOS.

Leituras liberais

O verdadeiro “modelo sueco”

JOÃO MARQUES DE ALMEIDA

Por toda a Europa, e não só em Portugal, o “modelo sueco” desperta grande entusiasmo. Na Grã-Bretanha, consta que o modelo é o grande inspirador de muitas políticas económicas do “New Labour”. Durante a actual campanha eleitoral na Alemanha, o actual Chanceler, Gerard Schroeder, revelou que a sua ambição é fazer da Alemanha uma “grande Suécia”. Até em França, nestas coisas de modelos tradicionalmente mais nacionalista, o primeiro-ministro, Dominique de Villepin, confessou que a sua política económica se inspira, em parte, nomodelo nórdico. Partindo do pressuposto de que se pode falar de um “modelo sueco”, qual é então a sua natureza?
Em 1950, a Suécia era o país mais rico da Europa, mas simultaneamente tinha um dos sectores públicos mais reduzidos do mundo ocidental, ao nível dos Estados Unidos. A partir das décadas de 1960 e de 1970 começaram os problemas. O sector público cresceu de um modo incontrolado. Por exemplo, enquanto em 1950 gastava cerca de 25% do produto interno, em1982 os gastos subiram para 65%. Um outro exemplo revela que, entre 1970 e 1990, o sector privado não criou um único posto de trabalho; por outro lado, no mesmo período, quase um milhão de suecos passaram a trabalhar para o Estado. Simultaneamente, os impostos aumentaram, transformando a Suécia no país com os impostos mais elevados do mundo ocidental, e a criação de riqueza estagnou. Entre os finais dos anos 1950 e os finais dos anos 1980, nas tabelas da OCDE dos países mais ricos, a Suécia passou do quarto para o décimo sétimo lugar.
Mais grave, o aumento do Estado retirou liberdade económica e capacidade de iniciativa aos cidadãos suecos, a receita para o crescimento económico dos meados do século XX. Enfim, a deriva social do “modelo sueco” diminuiu a riqueza, criou um “Estado tutor”, e originou uma espécie de “epidemia abstencista”, em quem muitos suecos preferiam viver da segurança social do que trabalhar. Em 1990, deu-se o colapso do “modelo social sueco”.
Em quatro anos, perderam-se meio milhão de empregos e o governo foi incapaz de controlar uma dupla crise de finanças públicas e fiscal. Entretida com o que se passava a leste, o resto da Europa não se apercebeu nem do colapso sueco, nem da revolução que se seguiu. O ressurgimento liberal foi o primeiro passo para as mudanças. Carl Bildt, líder do Partido Conservador e primeiro-ministro entre 1991 e 1994, iniciou a liberalização do “modelo sueco”: privatizou, reduziu o sector público e diminuiu os impostos.
Desde 1996, o actual primeiro-ministro social-democrata, Goran Petersson, abandonou a visão social que Olaf Palme tinha imposto ao partido, e manteve as reformas liberais, num processo de resto muito semelhante à “terceira via” de Blair.
Hoje, o “Estado tutor” desapareceu e, no seu lugar, surgiu um Estado mais reduzido que coopera com a sociedade, que voltou a garantir a liberdade económica e estimula a iniciativa privada. A economia voltou a crescer e o desemprego a diminuir. É óbvio que a Suécia ainda enfrenta problemas sérios, mas a verdade é que recuperou do colapso dos anos 1990, com a aplicação de receitas liberais.
Devemos retirar duas conclusões do exemplo sueco. Em primeiro lugar, quem olha para omodelo sueco, deve ter a consciência dos problemas causados pela deriva social dos anos de 1970 e 1980. Em segundo lugar, contra a vontade do autor, cumpriu-se a profecia do pai fundador do modelo social sueco, Gunnar Myrdal, que em 1934 escreveu: “se o Estado providência não funcionar na Suécia, então não resultará em mais algum país”.

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João Marques de Almeida é director do Instituto de Defesa Nacional e assina esta coluna semanalmente no "Diário Económico" à segunda-feira.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Leituras Liberais

A esquerda inculta

Da mesma forma que a direita salazarista o foi no Estado Novo, a esquerda actual é profundamente preconceituosa. É preconceituosa quando afirma que os agentes culturais estão do lado da esquerda e são maioritariamente socialistas. É preconceituosa quando qualifica qualquer pessoa de direita como apenas conhecedora de números e estatísticas. É preconceituosa quando reduz à cultura o seu entendimento privado e único. Porque não julga que a cultura pode viver sem apoio do Estado e é preconceituosa porque, tal como a direita salazarista acreditou, considera que não estamos preparados para vivermos fora da alçada do Estado.
Ao ser preconceituosa, da mesma forma que a direita salazarista o foi no Estado Novo, a esquerda actual é profundamente inculta.

André Abrantes Amaral, n' O Insurgente