terça-feira, junho 27, 2006
quarta-feira, maio 17, 2006
sexta-feira, novembro 18, 2005
"Noites à Direita" na rádio
Na Rádio Renascença e na TSF
Brevemente, iremos apresentando aqui algumas das afirmações que foram proferidas durante a intervenção do economista Daniel Bessa (é normal que aos jornalistas tenha interessado sobretudo a polémica do orçamento no PSD e, por isso, destaquem em primeiro lugar a brilhante intervenção de António Borges).
Para já, uma frase liberal de Bessa:
"O perigo maior de Portugal é tornar-se numa pequena Sicília. Aquilo que eu vejo nas propostas do PCP e do Bloco de Esquerda são pequenas sicílias. Eu não sei se a Sicília é de esquerda ou de direita. Sei que para tudo há um padrinho, seja o Estado, seja outro qualquer. Um dos perigos maiores da sociedade portuguesa é a extrema aversão ao risco."
Brevemente, iremos apresentando aqui algumas das afirmações que foram proferidas durante a intervenção do economista Daniel Bessa (é normal que aos jornalistas tenha interessado sobretudo a polémica do orçamento no PSD e, por isso, destaquem em primeiro lugar a brilhante intervenção de António Borges).
Para já, uma frase liberal de Bessa:
"O perigo maior de Portugal é tornar-se numa pequena Sicília. Aquilo que eu vejo nas propostas do PCP e do Bloco de Esquerda são pequenas sicílias. Eu não sei se a Sicília é de esquerda ou de direita. Sei que para tudo há um padrinho, seja o Estado, seja outro qualquer. Um dos perigos maiores da sociedade portuguesa é a extrema aversão ao risco."
"Noites à Direita" na Economia do Independente
Uma notícia assinada por Leonardo Ralha na Economia do Independente. As "Noites" são também referidas numa notícia de política nacional.
quinta-feira, novembro 17, 2005
"Noites à Direita" online
O economista social-democrata António Borges considerou quarta-feira à noite que o Orçamento de Estado (OE) para 2006 do Governo PS tem «aspectos positivos», mas «não modifica a política económica fundamental», recusando comentar a sua rejeição pelo PSD, noticiou a Lusa.
«Se votaria a favor ou contra, não entro nessa polémica que é interna do PSD, por razões óbvias», afirmou Borges, que no último Congresso dos sociais-democratas apresentou uma moção de estratégia (a segunda mais votada, a seguir à de Marques Mendes).
António Borges, que foi um dos oradores de uma conferência sobre «A Direita e a Economia», organizada pelas «Noites à Direita. Projecto liberal», recusou desta forma juntar-se à voz da ex-ministra das Finanças do PSD Manuela Ferreira Leite, que afirmou segunda-feira que, se estivesse no Parlamento, ter-se-ia abstido na votação da proposta orçamental do executivo.
Pelo lado positivo, Borges destacou no OE a aposta na redução do défice e da despesa pública, mas disse duvidar do cumprimento da proposta.
«A grande crítica que faço a este Orçamento é que vai ser muito difícil de cumprir porque é excessivamente optimista e não contém medidas concretas que permitam executá-lo», afirmou o ex-governador do Banco de Portugal, respondendo a uma pergunta da assistência.
Jornal de Negócios Online
E no "Diário Económico" online, citando integralmente uma notícia da Lusa:
António Borges considera que orçamento tem "aspectos positivos", mãs não altera erros
LusaO economista social- democrata António Borges considerou quarta-feira à noite que o Orçamento de Estado (OE) para 2006 do Governo PS tem "aspectos positivos", mas "não modifica a política económica fundamental", recusando comentar a sua rejeição pelo PSD.
"Se votaria a favor ou contra, não entro nessa polémica que é interna do PSD, por razões óbvias", afirmou Borges, que no último Congresso dos sociais-democratas apresentou uma moção de estratégia (a segunda mais votada, a seguir à de Marques Mendes).
António Borges, que foi um dos oradores de uma conferência sobre "A Direita e a Economia", organizada pelas "Noites à Direita. Projecto liberal", recusou desta forma juntar-se à voz da ex-ministra das Finanças do PSD Manuela Ferreira Leite, que afirmou segunda-feira que, se estivesse no Parlamento, ter-se-ia abestido na votação da proposta orçamental do executivo.
Pelo lado positivo, Borges destacou no OE a aposta na redução do défice e da despesa pública, mas disse duvidar do cumprimento da proposta.
"A grande crítica que faço a este Orçamento é que vai ser muito difícil de cumprir porque é excessivamente optimista e não contém medidas concretas que permitam executá-lo", afirmou o ex-governador do Banco de Portugal, respondendo a uma pergunta da assistência.
Borges lamentou, contudo, que o Governo PS mantenha o que considera ser "o erro gravíssimo" da política económica portuguesa: "favorece o sector que está protegido da concorrência e não ajuda o sector que é competitivo com o estrangeiro".
"Para se apostar na inovação e na mudança tem de se desistir de apoiar o que existe hoje (Ó) Isto implica necessariamente que há alguém que fica para trás", defendeu Borges, considerando que esta é "uma das principais clivagens entre direita e esquerda" em matéria económica.
O economista respondeu ainda a um repto da plateia sobre os poderes do Presidente da República, afirmando que o chefe de Estado deve ser sobretudo "um educador".
"Deve saber passar as mensagens que interessam, deve fazer subir o nível de exigência, mas não deve intervir, não deve governar", defendeu.
O "agente provocador" da conferência, Daniel Bessa, ex-ministro da Economia de António Guterres, considerou difícil distinguir hoje direita e esquerda (excepção feita ao PCP e Bloco de Esquerda) em matéria económica, mas conseguiu apontar uma "clivagem fracturante" no domínio das relações laborais.
"A relação entre capital e trabalho não é equilibrada, o trabalhador é a parte fraca e deve ser minimamente protegida", defendeu, manifestando-se contra o despedimento individual sem justa causa.
No entanto, questionado pela assistência sobre a dificuldade de despedir um empregado com justa causa, Daniel Bessa atribuiu as culpas a um "enviesamento de esquerda inaceitável" dos tribunais do trabalho, o que lhe valeu um aplauso generalizado da sala.
Em matéria de impostos, Bessa defendeu que se deveria "arriscar uma descida considerabilíssima" dos impostos sobre as empresas (IRC) e criticou a criação de um novo escalão de 42 por cento no IRS no OE para 2006, considerando que desincentiva a criação de riqueza.
"Temos uma taxa de IRC muito alta, mas o Estado não consegue receber dinheiro nenhum", criticou igualmente António Borges, apelando ao Governo para que proceda a uma simplificação e modernização do sistema fiscal.
A próxima sessão das "Noites à Direita. Projecto Liberal", uma iniciativa que conta, entre os promotores, com o ex-vice-presidente do CDS António Pires de Lima (que hoje moderou o debate), vai ser no Porto, em Janeiro, sobre a regionalização.
Curiosamente, os dois jornais económicos são dos poucos meios de comunicação social que não publicaram nada na versão impressa. Curiosamente, dizemos, porque afinal esta edição das "Noites" era sobre Economia.
«Se votaria a favor ou contra, não entro nessa polémica que é interna do PSD, por razões óbvias», afirmou Borges, que no último Congresso dos sociais-democratas apresentou uma moção de estratégia (a segunda mais votada, a seguir à de Marques Mendes).
António Borges, que foi um dos oradores de uma conferência sobre «A Direita e a Economia», organizada pelas «Noites à Direita. Projecto liberal», recusou desta forma juntar-se à voz da ex-ministra das Finanças do PSD Manuela Ferreira Leite, que afirmou segunda-feira que, se estivesse no Parlamento, ter-se-ia abstido na votação da proposta orçamental do executivo.
Pelo lado positivo, Borges destacou no OE a aposta na redução do défice e da despesa pública, mas disse duvidar do cumprimento da proposta.
«A grande crítica que faço a este Orçamento é que vai ser muito difícil de cumprir porque é excessivamente optimista e não contém medidas concretas que permitam executá-lo», afirmou o ex-governador do Banco de Portugal, respondendo a uma pergunta da assistência.
Jornal de Negócios Online
E no "Diário Económico" online, citando integralmente uma notícia da Lusa:
António Borges considera que orçamento tem "aspectos positivos", mãs não altera erros
LusaO economista social- democrata António Borges considerou quarta-feira à noite que o Orçamento de Estado (OE) para 2006 do Governo PS tem "aspectos positivos", mas "não modifica a política económica fundamental", recusando comentar a sua rejeição pelo PSD.
"Se votaria a favor ou contra, não entro nessa polémica que é interna do PSD, por razões óbvias", afirmou Borges, que no último Congresso dos sociais-democratas apresentou uma moção de estratégia (a segunda mais votada, a seguir à de Marques Mendes).
António Borges, que foi um dos oradores de uma conferência sobre "A Direita e a Economia", organizada pelas "Noites à Direita. Projecto liberal", recusou desta forma juntar-se à voz da ex-ministra das Finanças do PSD Manuela Ferreira Leite, que afirmou segunda-feira que, se estivesse no Parlamento, ter-se-ia abestido na votação da proposta orçamental do executivo.
Pelo lado positivo, Borges destacou no OE a aposta na redução do défice e da despesa pública, mas disse duvidar do cumprimento da proposta.
"A grande crítica que faço a este Orçamento é que vai ser muito difícil de cumprir porque é excessivamente optimista e não contém medidas concretas que permitam executá-lo", afirmou o ex-governador do Banco de Portugal, respondendo a uma pergunta da assistência.
Borges lamentou, contudo, que o Governo PS mantenha o que considera ser "o erro gravíssimo" da política económica portuguesa: "favorece o sector que está protegido da concorrência e não ajuda o sector que é competitivo com o estrangeiro".
"Para se apostar na inovação e na mudança tem de se desistir de apoiar o que existe hoje (Ó) Isto implica necessariamente que há alguém que fica para trás", defendeu Borges, considerando que esta é "uma das principais clivagens entre direita e esquerda" em matéria económica.
O economista respondeu ainda a um repto da plateia sobre os poderes do Presidente da República, afirmando que o chefe de Estado deve ser sobretudo "um educador".
"Deve saber passar as mensagens que interessam, deve fazer subir o nível de exigência, mas não deve intervir, não deve governar", defendeu.
O "agente provocador" da conferência, Daniel Bessa, ex-ministro da Economia de António Guterres, considerou difícil distinguir hoje direita e esquerda (excepção feita ao PCP e Bloco de Esquerda) em matéria económica, mas conseguiu apontar uma "clivagem fracturante" no domínio das relações laborais.
"A relação entre capital e trabalho não é equilibrada, o trabalhador é a parte fraca e deve ser minimamente protegida", defendeu, manifestando-se contra o despedimento individual sem justa causa.
No entanto, questionado pela assistência sobre a dificuldade de despedir um empregado com justa causa, Daniel Bessa atribuiu as culpas a um "enviesamento de esquerda inaceitável" dos tribunais do trabalho, o que lhe valeu um aplauso generalizado da sala.
Em matéria de impostos, Bessa defendeu que se deveria "arriscar uma descida considerabilíssima" dos impostos sobre as empresas (IRC) e criticou a criação de um novo escalão de 42 por cento no IRS no OE para 2006, considerando que desincentiva a criação de riqueza.
"Temos uma taxa de IRC muito alta, mas o Estado não consegue receber dinheiro nenhum", criticou igualmente António Borges, apelando ao Governo para que proceda a uma simplificação e modernização do sistema fiscal.
A próxima sessão das "Noites à Direita. Projecto Liberal", uma iniciativa que conta, entre os promotores, com o ex-vice-presidente do CDS António Pires de Lima (que hoje moderou o debate), vai ser no Porto, em Janeiro, sobre a regionalização.
Curiosamente, os dois jornais económicos são dos poucos meios de comunicação social que não publicaram nada na versão impressa. Curiosamente, dizemos, porque afinal esta edição das "Noites" era sobre Economia.
"Noites à Direita" na blogosfera
Grande noite à direita, no Bodegas.
Noites à Direita e Noites à Direita (2)- Folhetim rosa (salvo seja), no Miss Pearls.
Noites à Direita - comentário noticioso e Noites à Direita - comentário inicial, no Insurgente.
A treta, ainda no incontornável Insurgente.
«Noites à Direita» na imprensa no Aforismo e Afins.
Tudo isto resumido no 19 meses depois, da pontual e naturalmente crítica de atrasos que é a Alaíde.
Obrigado a todos pela presença e pelos comentários muito simpáticos. Agradeço também os possíveis comentários críticos. Todos serão publicados, na medida em que vamos tomando conta deles.
Noites à Direita e Noites à Direita (2)- Folhetim rosa (salvo seja), no Miss Pearls.
Noites à Direita - comentário noticioso e Noites à Direita - comentário inicial, no Insurgente.
A treta, ainda no incontornável Insurgente.
«Noites à Direita» na imprensa no Aforismo e Afins.
Tudo isto resumido no 19 meses depois, da pontual e naturalmente crítica de atrasos que é a Alaíde.
Obrigado a todos pela presença e pelos comentários muito simpáticos. Agradeço também os possíveis comentários críticos. Todos serão publicados, na medida em que vamos tomando conta deles.
Em cima da hora
As "Noites à Direita" de ontem à noite já estão no Diário de Notícias de hoje. Em cima da hora. Aproveitamos para agradecer a presença do mundo da blogosfera - e de todos os que estiveram presentes - nesta terceira sessão na belíssima Sala Portugal da Sociedade Nacional de Geografia, a quem agradecemos também a disponibilidade e simpatia. Agradecemos ainda aos diversos meios de comunicação social presente. Não vamos dizer que foi um grande sucesso, porque não gostamos de falar em causa própria.
Obrigado de novo a todos, sobretudo aos convidados António Borges e Daniel Bessa, que estiveram simplesmente brilhantes.
Obrigado de novo a todos, sobretudo aos convidados António Borges e Daniel Bessa, que estiveram simplesmente brilhantes.
sexta-feira, novembro 11, 2005
Marque já na sua agenda
NOITES À DIREITA*
*projecto liberal
António Borges e Daniel Bessa são os convidados principais de mais uma sessão das Noites à Direita*Projecto Liberal, com a moderação de António Pires de Lima. Uma semana depois da aprovação do Orçamento de Estado para 2006, vamos ouvir quem mais sabe da matéria. Mas não ficaremos por discussões técnicas, porque o que está em causa são as políticas e o futuro de Portugal.
Numa conversa aberta a todos, António Borges e Daniel Bessa serão convidados a debater o que está em causa para o presente e para o futuro económico e político do nosso País: até onde deve ir a intervenção do Estado na Economia, será que o modelo social está totalmente esgotado ou é ainda reformável, como é possível combater o défice e o desemprego, aumentando a produtividade, que reformas e privatizações são essenciais, ou qual é o papel de Portugal numa economia cada vez mais globalizada.
Dia 16 de Novembro, pelas 20h30, na Sociedade de Geografia, junto ao Coliseu de Lisboa.
Não Perca. Você é o nosso convidado principal.
__________
Os promotores: António Pires de Lima, Leonardo Mathias, Luciano Amaral, Filipa Correia Pinto, Manuel Falcão, Paulo Pinto Mascarenhas, Pedro Lomba e Rui Ramos
Alteração do moderador
Motivo imprevisto de última hora faz com que a moderação da próxima sessão das "Noites à Direita*Projecto Liberal" já não possa ser assegurada pelo director do "Diário Económico", Martim Avillez Figueiredo. No seu lugar estará António Pires de Lima.
[Paulo Pinto Mascarenhas]
[Paulo Pinto Mascarenhas]
quinta-feira, novembro 10, 2005
Leituras Liberais
Cheiro a Weimar
LUCIANO AMARAL
Há dois meses, um furacão trouxe para o prime time televisivo imagens dramáticas do lado menos feliz da sociedade americana a pobreza de certos bairros negros. Correu então uma incontida alegria pela pena dos comentadores, que se empanturraram numa verdadeira orgia de bordoada na América, no neoliberalismo selvagem e, claro, no compêndio dos dois, o Presidente Bush.
Agora, não foi preciso um furacão para mostrar o lado mais pobre e mais podre da sociedade francesa, mas ainda não se viu a mesma desenvoltura para sovar a Europa e o modelo social europeu. Haveria até bastantes razões para isso, usando o mesmo elevado padrão intelectual, já que (embora ninguém tenha falado nisso) também na Dinamarca (na Escandinávia das delícias da nossa classe política) os subúrbios de Ahrus conheceram episódios parecidos, tendo mesmo surgido carros queimados em Bruxelas e em três cidades alemãs.
Em vez da metralha deste tipo de disparates, aquilo que apareceu foi uma espécie de inútil gongorismo sociológico, misturado com umas suavidades sobre "desafios para o futuro", para além da tentativa apatetada de encontrar um Bush local, na pessoa de Nicolas Sarkozy.
Num continente onde o único instrumento intelectual que tem sido desenvolvido consiste no ódio à América e ao neoliberalismo, não admira a pobreza analítica e a incapacidade para perceber a tragédia na altura em que ela bate à nossa própria porta. Quando não se pode atirar a matar a Bush, não resta nada.
Vale a pena, no entanto, tentar perceber um pouco melhor aquilo que se passa. Só que tentar percebê-lo requer lidar com temas que ninguém na Europa quer discutir a sério o comportamento demográfico dos europeus, a imigração, o Estado Social e o radicalismo islâmico. Na origem, está o comportamento demográfico, que actualmente não garante a substituição de gerações na Europa. Muitas vezes não se repara como é estranha a vaga de imigração para o continente. A imigração em geral não depende apenas da existência de níveis de vida muito diferentes entre dois territórios. Depende sobretudo da existência de postos de trabalho por preencher no território que é mais rico. As grandes vagas de (e)imigração dos séculos XIX e XX fizeram-se para países com um pujante crescimento económico.
Ora, as economias europeias pouco crescem. O que atrai os imigrantes à Europa é a escassez de mão-de-obra para alimentar o Estado Social, que precisa deles para manter os subsídios de desemprego e as pensões de reforma.
É notável a perversidade de todo o mecanismo: os europeus recusam-se a entrar em certas profissões desqualificadas, a isso preferindo o desemprego e o subsídio que ele garante.Mas como elas têm de ser desempenhadas, os imigrantes são convidados a fazê-lo. Aceitam condições de trabalho e remunerações intoleráveis para um europeu original. Já os seus filhos recusam o mesmo destino. Não só as suas expectativas são mais elevadas, como, sendo cidadãos plenos, recorrem livremente às esmolas do welfare state.
É assim oferecido à segunda geração um incentivo ao desemprego. E deste modo se alimenta a elevada taxa de desemprego que caracteriza as sociedades europeias, a qual tem de ser coberta por novos imigrantes, que voltam a aceitar horríveis condições laborais. Afinal, aquele que é suposto ser o modelo de protecção social mais sofisticado não dispensa a existência de uma subclasse permanente, sem plenos direitos económicos, cívicos e políticos.
Incapazes de lhes oferecerem oportunidades para além do perpétuo subsídio de desemprego, os países europeus remetem os filhos de imigrantes para aldeias etnográficas, onde, em nome do multiculturalismo, os deixam prosseguir hábitos tantas vezes contrários à lei e à moral tradicionais europeias. Onde a imigração islâmica predomina, abundam os casamentos forçados, a poligamia, a violação iniciática e a excisão vaginal. Independentemente de, poucos metros ao lado, vigorar o princípio da total emancipação feminina.
Não vale a pena tapar o sol com a peneira e não reconhecer que os amotinados de França são de origem islâmica, muitos sob o efeito das prédicas dos imãs locais, que destilam o mais puro ódio contra a sociedade ocidental decadente. Este é o mesmo caldo de cultura que nos deu o assassino de Theo van Gogh e os bombistas do 7 de Julho.
E agora, depois de 15 dias de manifestação de ódio dos filhos de imigrantes pela sociedade que acolheu os seus pais, o que vai fazer a França tradicional? A França branca e dos imigrantes de primeira geração (onde, de resto, se encontra grande número de votantes em Le Pen)?
Atrevo-me a sugerir (esperando, porém, que um milagre aconteça) que fará uma de duas coisas (ou as duas juntas) igualmente trágicas: ou demonstrar uma compreensão ainda maior pela desgraça dos "jovens rebeldes", assim contribuindo para aprofundar a deliquescência da autoridade republicana, ou afirmar um ódio radical ao "estrangeiro".
Parece uma situação sem saída? Parece. Mas há circuntâncias em que assim é. Também a fraqueza da Alemanha de Weimar não tinha uma solução feliz.
____
Luciano Amaral é professor universitário e escreve esta coluna todas as quintas-feiras no "Diário de Notícias"
LUCIANO AMARAL
Há dois meses, um furacão trouxe para o prime time televisivo imagens dramáticas do lado menos feliz da sociedade americana a pobreza de certos bairros negros. Correu então uma incontida alegria pela pena dos comentadores, que se empanturraram numa verdadeira orgia de bordoada na América, no neoliberalismo selvagem e, claro, no compêndio dos dois, o Presidente Bush.
Agora, não foi preciso um furacão para mostrar o lado mais pobre e mais podre da sociedade francesa, mas ainda não se viu a mesma desenvoltura para sovar a Europa e o modelo social europeu. Haveria até bastantes razões para isso, usando o mesmo elevado padrão intelectual, já que (embora ninguém tenha falado nisso) também na Dinamarca (na Escandinávia das delícias da nossa classe política) os subúrbios de Ahrus conheceram episódios parecidos, tendo mesmo surgido carros queimados em Bruxelas e em três cidades alemãs.
Em vez da metralha deste tipo de disparates, aquilo que apareceu foi uma espécie de inútil gongorismo sociológico, misturado com umas suavidades sobre "desafios para o futuro", para além da tentativa apatetada de encontrar um Bush local, na pessoa de Nicolas Sarkozy.
Num continente onde o único instrumento intelectual que tem sido desenvolvido consiste no ódio à América e ao neoliberalismo, não admira a pobreza analítica e a incapacidade para perceber a tragédia na altura em que ela bate à nossa própria porta. Quando não se pode atirar a matar a Bush, não resta nada.
Vale a pena, no entanto, tentar perceber um pouco melhor aquilo que se passa. Só que tentar percebê-lo requer lidar com temas que ninguém na Europa quer discutir a sério o comportamento demográfico dos europeus, a imigração, o Estado Social e o radicalismo islâmico. Na origem, está o comportamento demográfico, que actualmente não garante a substituição de gerações na Europa. Muitas vezes não se repara como é estranha a vaga de imigração para o continente. A imigração em geral não depende apenas da existência de níveis de vida muito diferentes entre dois territórios. Depende sobretudo da existência de postos de trabalho por preencher no território que é mais rico. As grandes vagas de (e)imigração dos séculos XIX e XX fizeram-se para países com um pujante crescimento económico.
Ora, as economias europeias pouco crescem. O que atrai os imigrantes à Europa é a escassez de mão-de-obra para alimentar o Estado Social, que precisa deles para manter os subsídios de desemprego e as pensões de reforma.
É notável a perversidade de todo o mecanismo: os europeus recusam-se a entrar em certas profissões desqualificadas, a isso preferindo o desemprego e o subsídio que ele garante.Mas como elas têm de ser desempenhadas, os imigrantes são convidados a fazê-lo. Aceitam condições de trabalho e remunerações intoleráveis para um europeu original. Já os seus filhos recusam o mesmo destino. Não só as suas expectativas são mais elevadas, como, sendo cidadãos plenos, recorrem livremente às esmolas do welfare state.
É assim oferecido à segunda geração um incentivo ao desemprego. E deste modo se alimenta a elevada taxa de desemprego que caracteriza as sociedades europeias, a qual tem de ser coberta por novos imigrantes, que voltam a aceitar horríveis condições laborais. Afinal, aquele que é suposto ser o modelo de protecção social mais sofisticado não dispensa a existência de uma subclasse permanente, sem plenos direitos económicos, cívicos e políticos.
Incapazes de lhes oferecerem oportunidades para além do perpétuo subsídio de desemprego, os países europeus remetem os filhos de imigrantes para aldeias etnográficas, onde, em nome do multiculturalismo, os deixam prosseguir hábitos tantas vezes contrários à lei e à moral tradicionais europeias. Onde a imigração islâmica predomina, abundam os casamentos forçados, a poligamia, a violação iniciática e a excisão vaginal. Independentemente de, poucos metros ao lado, vigorar o princípio da total emancipação feminina.
Não vale a pena tapar o sol com a peneira e não reconhecer que os amotinados de França são de origem islâmica, muitos sob o efeito das prédicas dos imãs locais, que destilam o mais puro ódio contra a sociedade ocidental decadente. Este é o mesmo caldo de cultura que nos deu o assassino de Theo van Gogh e os bombistas do 7 de Julho.
E agora, depois de 15 dias de manifestação de ódio dos filhos de imigrantes pela sociedade que acolheu os seus pais, o que vai fazer a França tradicional? A França branca e dos imigrantes de primeira geração (onde, de resto, se encontra grande número de votantes em Le Pen)?
Atrevo-me a sugerir (esperando, porém, que um milagre aconteça) que fará uma de duas coisas (ou as duas juntas) igualmente trágicas: ou demonstrar uma compreensão ainda maior pela desgraça dos "jovens rebeldes", assim contribuindo para aprofundar a deliquescência da autoridade republicana, ou afirmar um ódio radical ao "estrangeiro".
Parece uma situação sem saída? Parece. Mas há circuntâncias em que assim é. Também a fraqueza da Alemanha de Weimar não tinha uma solução feliz.
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Luciano Amaral é professor universitário e escreve esta coluna todas as quintas-feiras no "Diário de Notícias"
quarta-feira, novembro 09, 2005
Leituras Liberais
O outro terramoto
RUI RAMOS
Desde há mais de um ano que dia sim, dia não passa uma efeméride do chamado PREC, a revolução socialista à qual os portugueses tiveram de sobreviver, entre 1974 e 1975, para chegar à democracia em que hoje vivem. A imprensa tem registado as datas com aplicação, mas sem grande desenvolvimento ou impacto. Houve, até agora, muito mais congressos, livros, ou dossiers vistosos sobre o terramoto de 1755. É pena. Porque assim como a baixa de Lisboa não se percebe sem o sismo de 1755, também a sociedade portuguesa não se percebe sem o cataclismo da última revolução socialista da Europa. É esse outro terramoto que explica, por exemplo, um “modelo social” que favorece os empregados públicos e sindicalizados das cidades, actores importantes do PREC de 1975, em relação aos verdadeiramente pobres, como os idosos rurais.
O PREC, hoje, parece parte da história de outro país. É mais fácil imaginar Lisboa governada pelo Marquês de Pombal em 1755, do que pelos precursores caseiros de Hugo Chávez em 1975. Como foi possível transformar um país europeu num “forúm social” permanente? Teria sido simples reacção contra uma ditadura conservadora especialmente longa e odiosa? A Espanha saíu, quase ao mesmo tempo, de outra ditadura conservadora não menos longa e ainda mais odiosa, sem precisar da purga de uma orgia marxista. Eram as esquerdas marxistas particularmente poderosas em Portugal? Não foram elas que fizeram a revolução, mas os militares que a ditadura formou e que a serviram durante anos.
A efeméride desta sexta-feira contem o princípio de inteligibilidade do terramoto revolucionário. Fará então trinta anos que, a 11 de Novembro de 1975, a bandeira portuguesa foi arreada na fortaleza de Luanda. Dias depois, a 25 de Novembro, o circo do PREC começava a ser desmontado em Lisboa. O epicentro do terramoto de 1975 esteve sempre em Luanda. O MFA tinha feito o golpe de estado de 25 de Abril de 1974 para acabar a guerra em África. Deparou-se então com um estranho paradoxo: se continuar a guerra, como dizia Marcelo Caetano, era incompatível com a democracia, terminar a guerra também. A razão era simples. Os chefes dos partidos armados marxistas que, em África, combatiam a administração portuguesa não queriam a democracia, mas simplesmente herdar a autoridade colonial. Só à força se teriam submetido a um teste eleitoral. Acontece que os militares portugueses não queriam nem se sentiam em condições, depois do golpe de estado e do desmoronamento das razões salazaristas, para manter o esforço de defesa. Abandonaram, por isso, quaisquer veleidades de democratização em África. Ao contrário do que diz a lenda, não foi preciso muita conspiração soviética. Bastou o desejo de voltar a casa.
Só que uma democracia pluralista em Portugal representava um risco para a retirada: poderia dar voz a quem quisesse intervir em África a pretexto de proteger os portugueses lá residentes, ou os direitos dos africanos a uma verdadeira auto-determinação. O PREC, ao liquidar a “direita” e ao entregar o poder aos aliados portugueses dos partidos armados africanos, garantiu que não se ouviria essa voz. Assim se pode explicar, nas forças armadas, a conversão de alguns e a passividade de muitos perante ideologias e partidos que antes tinham sido ensinados a abominar. E assim se explica, também, que quando o risco deixou de existir, com a evacuação final dos portugueses e a independência de Angola, os militares tivessem subitamente puxado o tapete de debaixo dos pés dos revolucionários. O PREC, porém, se acabou na rua, ficou a durar nas leis. Do terramoto de 1755, restam as ruínas do Carmo. Do de 1975, um “modelo social” injusto e falido.
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Rui Ramos é historiador, professor universitário e assina esta coluna semanalmente à quarta-feira no "Diário Económico".
RUI RAMOS
Desde há mais de um ano que dia sim, dia não passa uma efeméride do chamado PREC, a revolução socialista à qual os portugueses tiveram de sobreviver, entre 1974 e 1975, para chegar à democracia em que hoje vivem. A imprensa tem registado as datas com aplicação, mas sem grande desenvolvimento ou impacto. Houve, até agora, muito mais congressos, livros, ou dossiers vistosos sobre o terramoto de 1755. É pena. Porque assim como a baixa de Lisboa não se percebe sem o sismo de 1755, também a sociedade portuguesa não se percebe sem o cataclismo da última revolução socialista da Europa. É esse outro terramoto que explica, por exemplo, um “modelo social” que favorece os empregados públicos e sindicalizados das cidades, actores importantes do PREC de 1975, em relação aos verdadeiramente pobres, como os idosos rurais.
O PREC, hoje, parece parte da história de outro país. É mais fácil imaginar Lisboa governada pelo Marquês de Pombal em 1755, do que pelos precursores caseiros de Hugo Chávez em 1975. Como foi possível transformar um país europeu num “forúm social” permanente? Teria sido simples reacção contra uma ditadura conservadora especialmente longa e odiosa? A Espanha saíu, quase ao mesmo tempo, de outra ditadura conservadora não menos longa e ainda mais odiosa, sem precisar da purga de uma orgia marxista. Eram as esquerdas marxistas particularmente poderosas em Portugal? Não foram elas que fizeram a revolução, mas os militares que a ditadura formou e que a serviram durante anos.
A efeméride desta sexta-feira contem o princípio de inteligibilidade do terramoto revolucionário. Fará então trinta anos que, a 11 de Novembro de 1975, a bandeira portuguesa foi arreada na fortaleza de Luanda. Dias depois, a 25 de Novembro, o circo do PREC começava a ser desmontado em Lisboa. O epicentro do terramoto de 1975 esteve sempre em Luanda. O MFA tinha feito o golpe de estado de 25 de Abril de 1974 para acabar a guerra em África. Deparou-se então com um estranho paradoxo: se continuar a guerra, como dizia Marcelo Caetano, era incompatível com a democracia, terminar a guerra também. A razão era simples. Os chefes dos partidos armados marxistas que, em África, combatiam a administração portuguesa não queriam a democracia, mas simplesmente herdar a autoridade colonial. Só à força se teriam submetido a um teste eleitoral. Acontece que os militares portugueses não queriam nem se sentiam em condições, depois do golpe de estado e do desmoronamento das razões salazaristas, para manter o esforço de defesa. Abandonaram, por isso, quaisquer veleidades de democratização em África. Ao contrário do que diz a lenda, não foi preciso muita conspiração soviética. Bastou o desejo de voltar a casa.
Só que uma democracia pluralista em Portugal representava um risco para a retirada: poderia dar voz a quem quisesse intervir em África a pretexto de proteger os portugueses lá residentes, ou os direitos dos africanos a uma verdadeira auto-determinação. O PREC, ao liquidar a “direita” e ao entregar o poder aos aliados portugueses dos partidos armados africanos, garantiu que não se ouviria essa voz. Assim se pode explicar, nas forças armadas, a conversão de alguns e a passividade de muitos perante ideologias e partidos que antes tinham sido ensinados a abominar. E assim se explica, também, que quando o risco deixou de existir, com a evacuação final dos portugueses e a independência de Angola, os militares tivessem subitamente puxado o tapete de debaixo dos pés dos revolucionários. O PREC, porém, se acabou na rua, ficou a durar nas leis. Do terramoto de 1755, restam as ruínas do Carmo. Do de 1975, um “modelo social” injusto e falido.
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Rui Ramos é historiador, professor universitário e assina esta coluna semanalmente à quarta-feira no "Diário Económico".