quinta-feira, setembro 15, 2005

A POLÍTICA DA CATÁSTROFE

RUI RAMOS

Este ano, a natureza decidiu fazer os terroristas sentirem-se insignificantes. Depois do ‘tsunami’ da Ásia, em Dezembro, veio agora o furacão do Golfo do México. A propósito, discutiu-se muita coisa. Curiosamente, o debate tem sido igual ao que se seguiu a cada um dos esforços terroristas dos últimos anos. Como se já não fossemos capazes de distinguir entre a natureza e o Sr. Bin Laden. Nos EUA, o furacão deixou para trás os políticos de dedo apontado uns aos outros, no negócio de passar culpas. Pouca gente quis meditar nos riscos inerentes à urbanização de pântanos regularmente atravessados por furacões e apertados entre grandes massas de água com uma altura superior. Em vez disso, tentou-se determinar que parte do governo deveria ser punida nas sondagens de opinião. Para os Democratas, deveriam ser as autoridades federais, Republicanas. Para os Republicanos, as autoridades locais, Democratas. Os intelectuais de esquerda aproveitaram para acusar os “neo-liberais” (sempre eles!) de uma suposta falta de investimento nas infra-estruturas e menosprezo pelos pobrezinhos. A revista Time trouxe até um artigo em que, sem intenções cómicas, se responsabilizava um primeiro-ministro inglês da década de 1980, a Sra. Thatcher, pela inundação de Nova Orleães. Eis onde chega o longo braço do preconceito ideológico. A direita intelectual, que nos EUA vale alguma coisa, não se deixou ficar. Deplorou os empecilhos da burocracia, e denunciou o Estado Social, que teria amestrado a população apenas para ser vítima.

No "Diário Económico" de ontem.