segunda-feira, julho 04, 2005

A atitude liberal e o “Let me try again”

PAULO PINTO MASCARENHAS

Tenho reparado nos últimos tempos nas reacções de alguma desconfiança em Portugal quando alguém se identifica como sendo liberal de direita.

“Ah, deve ser a favor do capitalismo selvagem, isso não é realista, não pode esquecer que no nosso país é preciso ter consciência social, proteger os mais pobres. O que faz aos mais pobres? Não lhe pode tirar a rede do Estado, não se pode ser liberal em Portugal, nem pense” – é um dos comentários possíveis se o nosso interlocutor for de direita. Como se um liberal português não soubesse que tem de lidar com a realidade e fosse uma espécie de monstro insensível aos dramas sociais dos mais desfavorecidos.

Quando a pessoa que nos ouve é de esquerda, ou sobretudo de extrema-esquerda, o clima arrisca tornar-se agressivo e podemos acabar a discussão a ser chamados de perigosos neo-liberais, inconscientes sociais, ou mesmo reaccionários e próximos do fascismo. Como se o fascismo, a par do comunismo, não tivesse sido um dos regimes mais anti-liberais de que há memória na História do séc. XX.

Porém, como escreveu Rui Ramos recentemente no "Diário Económico" , nem sempre foi um insulto chamar alguém de liberal, à direita como à esquerda. Pelo contrário, foi – e continua – a ser visto como um elogio nos países mais modernos e civilizados do Mundo, servindo de receita de sucesso para algumas das sociedades mais dinâmicas e evoluídas do sistema internacional.

Permitam-me, por isso, que diga que liberal não pode ser um insulto especialmente num país como o nosso, que se arrasta invariavel e penosamente na cauda de pelotões internacionais em sectores como a Educação, a Saúde ou a Justiça, sempre com o mesmo Estado omnipresente e asfixiante que condiciona a liberdade dos cidadãos.

De Eça de Queirós a António Barreto, Vicente Jorge Silva ou Vasco Pulido Valente, o problema português está genericamente diagnosticado nas letras e pelos notáveis da imprensa, sejam eles liberais ou não. Este Estado gordo, metediço, abastado e preguiçoso não serve, é preciso ter coragem para deixarmos de nos encostar a ele, caso contrário acabaremos todos por nos estatelar no meio do chão.

Porque repisar então insistentemente no mesmo erro? Porque é que somos obrigados a repetir as mesmas receitas, com diferentes graduações de ingredientes e de intensidades, mas sempre como o mesmo resultado? Sobretudo depois do evidente falhanço do modelo social, em Portugal como na Europa, com o crescimento ininterrupto dos défices e do desemprego, porque não tentar um modelo alternativo, numa perspectiva liberal? Porque haveremos de insistir numa política monocórdica que, como num disco velho e riscado de Frank Sinatra, parece repetir eternamente o refrão do “Let me try again”?

Ter uma atitude liberal já é um primeiro passo. Pequeno mas tão simples como não considerar que a riqueza é o inimigo, mas que, pelo contrário, é a pobreza que tem de ser combatida e que esta só pode ser combatida com riqueza acrescentada. Que mais do que continuar a dar o peixe, precisamos de ensinar a pescar. Que só com mais empresas podemos ter mais empregos.

Lugares-comuns, dir-me-ão. Mas que maior lugar-comum nós portugueses conhecemos que este círculo vícioso económico, social e político, que sucessivos governos, mais à esquerda ou mais à direita, não conseguem alterar?

Ter uma atitude liberal é um primeiro passo. Já me parece um bom princípio se a direita for capaz de adoptar a liberdade de expressão como um adquirido inquestionável e começar por admitir que tudo pode ser discutido.

Ao contrário do que possa parecer, a atitude da direita liberal não se confina à pretensão de um Estado magro mas respeitado e de uma sociedade livre e criativa. Pretende antes representar uma verdadeira alternativa de liberdade perante assuntos tão diversos como a saúde, a educação, a cultura, a justiça, a instituição familiar, os direitos das mulheres, a sexualidade, a dignificação da política e dos seus agentes – entre muitos outros.

Se existe uma direita liberal – e parece que são cada vez mais os que nela se revêem – capaz de olhar de um modo diferente e arejado para todas estas questões, apresentando um modelo alternativo de desenvolvimento para o país, assente na liberdade de escolha e de decisão, mas também na responsabilidade individual, podemos pedir pelo menos para que lhe seja dada uma oportunidade, escutando o que tem para propor.

É essa oportunidade que começa na próxima terça-feira, por volta das 20h30 da noite, no Café Nicola, em Lisboa.