quarta-feira, julho 06, 2005

Leituras liberais

PAULO PINTO MASCARENHAS


PARA UMA HISTÓRIA SEM AMNÉSIA SELECTIVA

On the Natural History of Destruction
W.G. Sebald
Penguin Books, London, 2004 [1999]

Austerlitz
W.G. Sebald
tradução Telma Costa, Teorema, Lisboa, 2004 [2001]

Se apelarmos para uma forma de recordar racional, percebemos rapidamente as semelhanças entre nazismo e comunismo. O historiador Ernst Nolte foi, porventura, o precursor deste esforço politicamente incorrecto. A tese de Nolte até pode não estar certa (nazismo como reacção particularista ao universalismo do comunismo). Mas o historiador alemão ofereceu-nos a pista correcta: devemos comparar, sem complexos, o nazismo com o comunismo. São idênticos em, pelo menos, dois pontos: 1) Organização do Estado: o totalitarismo do estado nazi foi decalcado do totalitarismo do Estado soviético. Mais: como Von Mises e Hayek indicaram logo na época, o programa económico de Hitler era quase idêntico ao programa económico socialista; 2) Ambos são antiliberais: o nazismo e o comunismo nascem de um ódio comum: a aversão ao pluralismo dos regimes liberais.

Henrique Raposo, Revista Atlântico


UM ALIADO NÃO É UM POODLE

Hug them close: Blair, Clinton, Bush and the special relationship
Peter Riddell
London, Politico’s, 2003, pp. 317


Marcado fortemente pelo antigo primeiro-ministro William Gladstone, liberal no vitoriano século XIX, Blair tem na sua “doutrina da comunidade internacional” (1999) as linhas mestras da sua acção externa. E aqui chegamos a uma das mais-valias deste livro: a demonstração de que grande parte da argumentação blairiana em torno da segurança e ameaça internacionais é semelhante antes e depois do 11 de Setembro. Centrando-se na posse de armas de destruição maciça por parte de Estados párias e numa concepção diferente de soberania dos Estados – onde genocídios ou crises humanitárias ameaçadoras da segurança regional são razões para intervenções externas da comunidade internacional (assim se explicam as cinco guerras que Blair levou a cabo desde 1997) – a GB de Blair teve engenho para se colocar na primeira linha do xadrez internacional, levando o ministro dos Estangeiros britânico, Jack Straw, a definir na perfeição o perfil da sua política externa: “Not as a superpower but as a very powerful force for good”. Por este livro se percebe – e esta será uma terceira linha argumentativa – que o apoio aos EUA no pós 11 de Setembro não foi dado de olhos vendados. Pelo contrário: na actual política externa britânica, a melhor forma de influenciar derivas unilateralistas da superpotência norte-americana é estar o mais próximo possível dela, procurando mesmo, como se verificou em algumas situações, incentivá-la a adoptar mecanismos multilaterais na tomada de decisões.


Bernardo Pires de Lima, Revista Atlântico