quinta-feira, junho 30, 2005
quarta-feira, junho 29, 2005
Convite pessoal e transmissível
“Noites à Direita” tem o prazer de o convidar para participar no debate “A Direita e a Liberdade”, pelas 20h30 do próximo dia 5 de Julho, no Café Nicola, em Lisboa.
Vicente Jorge Silva é o agente provocador de uma conversa sobre a direita, para discutir tudo. O director do “Diário de Notícias”, Miguel Coutinho, vai tentar moderar as vozes de António Pires de Lima e de todos os outros convidados, incluindo a sua. Contamos consigo.
Vicente Jorge Silva é o agente provocador de uma conversa sobre a direita, para discutir tudo. O director do “Diário de Notícias”, Miguel Coutinho, vai tentar moderar as vozes de António Pires de Lima e de todos os outros convidados, incluindo a sua. Contamos consigo.
Um blogue verdadeiramente liberal
PAULO PINTO MASCARENHAS
No blogue DIREITA LIBERAL vamos ter discussão teórica - muita, certamente, para todos os gostos - mas também queremos ter discussões e conversas muito práticas sobre todos os assuntos que interessam aos portugueses. E queremos a sua opinião sobretudo e sobre tudo. Os melhores comentários serão publicados na íntegra assim como os seus emails (para já, pode utilizar o pmascarenhas@portugalmail.pt).
Seja bem-vindo.
No blogue DIREITA LIBERAL vamos ter discussão teórica - muita, certamente, para todos os gostos - mas também queremos ter discussões e conversas muito práticas sobre todos os assuntos que interessam aos portugueses. E queremos a sua opinião sobretudo e sobre tudo. Os melhores comentários serão publicados na íntegra assim como os seus emails (para já, pode utilizar o pmascarenhas@portugalmail.pt).
Seja bem-vindo.
Popper e Oakeshott: sempre debaixo do braço
HENRIQUE RAPOSO
1. No século XX, as lições de Hume e Madison encontraram eco em vários autores. Destacamos Michael Oakeshott e Karl Popper. Estes dois homens (cada um à sua maneira) reconstruíram as lições dos iluminismos anglo-saxónicos. Oakeshott e Popper foram as duas torres da tradição liberal durante a segunda metade do século XX. O “Noites à Direita” anda com as suas obras debaixo do braço. E pretende partilhá-las.
2. A par de Aron, Hayek e Berlin, Karl Popper e Michael Oakeshott constituíram a defesa avançada dos regimes demo-liberais durante a segunda metade do século XX europeu. Enquanto defensores do primado do indivíduo e do pluralismo, recusaram, em absoluto, os princípios do monismo racionalista dos marxismos e neo-barra-marxismos que fustigaram o século passado. Estas escolas monistas dogmáticas seduziam (e seduzem) pela sua suposta grandeza teórica ou magnificência moral. Porquê? O racionalista monista cria uma definição una e absoluta de Homem, que tudo simplifica, que tudo harmoniza. Tudo parece perfeito… no papel. Daí a sedução. Aquele que é seduzido pelo monismo julga possuir uma chave intemporal e universal para a compreensão dos homens. Consequência óbvia desta atitude epistemológica: a pluralidade dos homens é reduzida, simplificada e mesmo destruída – daí os massacres produzidos pelas ideologias monistas do século XX. O pluralismo cultural e individual, aos olhos do racionalista monista, é um sintoma de imperfeição e não de riqueza. Em resposta a este ópio intelectual, Oakeshott e Popper sempre defenderam um conceito de liberdade formal e negativa (destinada a defender a liberdade do indivíduo do poder político centralizador) contra uma liberdade substantiva e positiva (a liberdade destinada a um nós usurpador das liberdades individuais: o conceito totalitário de HOMEM).
3. O grande mote da vida de Popper foi a deslegitimação do dogmatismo racionalista. Tal como Isaiah Berlin, criticou todos os sistemas filosóficos que partem do pressuposto de que é possível encontrar uma única fórmula, segundo a qual a pluralidade de interesses e valores dos homens podem ser harmoniosamente ligados num consenso racional. Esta aspiração do marxismo e de outras escolas monistas encontrou em Popper um obstáculo intransponível. E consciente da tentação eterna do monismo racionalista, Popper considerava, e bem, que a grande questão da teoria política não é “quem governa?” mas sim “que poder deve ser concedido ao governo?”. Ou seja, não interessa saber qual é a noção de Bem daquele que ocupa a cadeira do poder. A questão fundamental é, precisamente, limitar a dimensão da dita cadeira. A liberdade individual exige um estado forte mas curto.
4. E Michael Oakeshott? Que dizer do homem que fundiu a famosa disposição conservadora com os princípios e preceitos institucionais do liberalismo clássico? A Política do liberalismo clássico ressuscitou em todo o esplendor em Oakeshott. A política, aqui, consiste na criação de um espaço civil e jurídico comum à pluralidade dos homens (societas). A política não deve tentar criar uma meta colectiva, que, naturalmente, subjuga o livre arbítrio dos indivíduos (universitas). Por outras palavras, a política deve construir e defender as leis e instituições (base civilizacional a montante do livre arbítrio dos indivíduos) e deve ausentar-se da fabricação de destinos racionalistas e utópicos (utopias a jusante do livre arbítrio dos indivíduos).
5. São estes alguns dos princípios que o “Noites à Direita” pretende divulgar e discutir em Portugal.
1. No século XX, as lições de Hume e Madison encontraram eco em vários autores. Destacamos Michael Oakeshott e Karl Popper. Estes dois homens (cada um à sua maneira) reconstruíram as lições dos iluminismos anglo-saxónicos. Oakeshott e Popper foram as duas torres da tradição liberal durante a segunda metade do século XX. O “Noites à Direita” anda com as suas obras debaixo do braço. E pretende partilhá-las.
2. A par de Aron, Hayek e Berlin, Karl Popper e Michael Oakeshott constituíram a defesa avançada dos regimes demo-liberais durante a segunda metade do século XX europeu. Enquanto defensores do primado do indivíduo e do pluralismo, recusaram, em absoluto, os princípios do monismo racionalista dos marxismos e neo-barra-marxismos que fustigaram o século passado. Estas escolas monistas dogmáticas seduziam (e seduzem) pela sua suposta grandeza teórica ou magnificência moral. Porquê? O racionalista monista cria uma definição una e absoluta de Homem, que tudo simplifica, que tudo harmoniza. Tudo parece perfeito… no papel. Daí a sedução. Aquele que é seduzido pelo monismo julga possuir uma chave intemporal e universal para a compreensão dos homens. Consequência óbvia desta atitude epistemológica: a pluralidade dos homens é reduzida, simplificada e mesmo destruída – daí os massacres produzidos pelas ideologias monistas do século XX. O pluralismo cultural e individual, aos olhos do racionalista monista, é um sintoma de imperfeição e não de riqueza. Em resposta a este ópio intelectual, Oakeshott e Popper sempre defenderam um conceito de liberdade formal e negativa (destinada a defender a liberdade do indivíduo do poder político centralizador) contra uma liberdade substantiva e positiva (a liberdade destinada a um nós usurpador das liberdades individuais: o conceito totalitário de HOMEM).
3. O grande mote da vida de Popper foi a deslegitimação do dogmatismo racionalista. Tal como Isaiah Berlin, criticou todos os sistemas filosóficos que partem do pressuposto de que é possível encontrar uma única fórmula, segundo a qual a pluralidade de interesses e valores dos homens podem ser harmoniosamente ligados num consenso racional. Esta aspiração do marxismo e de outras escolas monistas encontrou em Popper um obstáculo intransponível. E consciente da tentação eterna do monismo racionalista, Popper considerava, e bem, que a grande questão da teoria política não é “quem governa?” mas sim “que poder deve ser concedido ao governo?”. Ou seja, não interessa saber qual é a noção de Bem daquele que ocupa a cadeira do poder. A questão fundamental é, precisamente, limitar a dimensão da dita cadeira. A liberdade individual exige um estado forte mas curto.
4. E Michael Oakeshott? Que dizer do homem que fundiu a famosa disposição conservadora com os princípios e preceitos institucionais do liberalismo clássico? A Política do liberalismo clássico ressuscitou em todo o esplendor em Oakeshott. A política, aqui, consiste na criação de um espaço civil e jurídico comum à pluralidade dos homens (societas). A política não deve tentar criar uma meta colectiva, que, naturalmente, subjuga o livre arbítrio dos indivíduos (universitas). Por outras palavras, a política deve construir e defender as leis e instituições (base civilizacional a montante do livre arbítrio dos indivíduos) e deve ausentar-se da fabricação de destinos racionalistas e utópicos (utopias a jusante do livre arbítrio dos indivíduos).
5. São estes alguns dos princípios que o “Noites à Direita” pretende divulgar e discutir em Portugal.
Portugal e o Mundo
BERNARDO PIRES DE LIMA
1. Portugal é herdeiro de uma História que construiu. Esconder isto é intelectualmente desonesto.
De descobridor e aventureiro, a imperial e isolacionista, Portugal foi trilhando o seu caminho consoante os rumos que a História lhe permitiu. Muitas vezes, porém, construímo-la nós mesmos. E isto não deve ser motivo de vergonha para ninguém.
2. A Democracia, e a nosso ver bem, colocou o país nos novos rumos que se iam construindo nas relações internacionais. O reforço da Aliança Atlântica, de que Portugal foi fundador, em 1949, e a opção/necessidade europeia, foram mecanismos que garantiram a consolidação da democracia, do bem estar dos portugueses, permitindo que um país, amputado das suas colónias ultramarinas encontrasse um novo papel no mundo.
3. Para nós, Direita Liberal, não deve haver dúvidas quanto às opções internacionais de Portugal. Somos, por isto, defensores de um consenso político nesta matéria entre partidos do arco democrático que, em boa verdade, sustentaram o regime democrático e o desenvolveram, desde 1974.
4. Vistas as coisas, para a Direita Liberal, Portugal deve conduzir a sua política externa em três eixos fundamentais:
4.1. Aliança Atlântica – Vínculo político/ideológico, garante da paz e segurança no espaço Euro-Atlântico nos últimos 60 anos, consubstanciado na NATO. Naturalmente, Portugal deve assumir uma relação forte e próxima com os EUA, pois esta concede-lhe, quer uma maior projecção internacional, quer uma autonomia maior em alturas críticas no seio da União Europeia. Pode mesmo, ser um caminho para fortalecer o país no interior da UE.
4.2. União Europeia – Projecto extraordinário entre Estados europeus que, a par da Aliança Atlântica, mantem quase a totalidade do Continente europeu em estabilidade e progresso como nunca o havia conseguido. Portugal abraçou-o em 1986 e não deve abandoná-lo. Por outro lado, a integração europeia, ao consolidar a nossa democracia, permitiu, pela primeira vez na nossa secular História, projectar-nos para uma via continental, em paralelo com a tradicional linha atlântica, base das nossas alianças marítimas do séc. XIX, e em quase todo o séc. XX.
4.3. PALOP – Sem qualquer tipo de saudosismos ou refém de quaisquer complexos colonialistas – NÃO SOMOS DESSA DIREITA RETRÓGRADA – a Direita Liberal defende que Portugal deve potenciar como desígnio estratégico nacional as suas relações com os países de língua portuguesa espalhados pelo mundo. Dos pontos de vista institucional, político, diplomático, económico e cultural. Assumir que a África lusófona, o Brasil e Timor são vectores estratégicos da própria relevância de Portugal no interior da UE, enquanto interlocutor privilegiado com esses países e regiões (aqui, também o Magreb deve ser estrategicamente importante para Portugal), conduz-nos a políticas externas menos “empoeiradas” e mais realistas. Assim é a Política Internacional.
5. Para a Direita Liberal não existem alternativas à democracia liberal. Não queremos regressos ao passado nem promovemos campanhas narcisistas ou saudosistas. Não é esse o caminho que queremos para o país. Não é esse o papel que queremos que Portugal desempenhe no séc. XXI. Posto isto, Portugal deve potenciar as suas “armas” no xadrez internacional o melhor que pode e sabe. Não temos dúvidas que o conseguirá. O optimismo está-nos no sangue.
1. Portugal é herdeiro de uma História que construiu. Esconder isto é intelectualmente desonesto.
De descobridor e aventureiro, a imperial e isolacionista, Portugal foi trilhando o seu caminho consoante os rumos que a História lhe permitiu. Muitas vezes, porém, construímo-la nós mesmos. E isto não deve ser motivo de vergonha para ninguém.
2. A Democracia, e a nosso ver bem, colocou o país nos novos rumos que se iam construindo nas relações internacionais. O reforço da Aliança Atlântica, de que Portugal foi fundador, em 1949, e a opção/necessidade europeia, foram mecanismos que garantiram a consolidação da democracia, do bem estar dos portugueses, permitindo que um país, amputado das suas colónias ultramarinas encontrasse um novo papel no mundo.
3. Para nós, Direita Liberal, não deve haver dúvidas quanto às opções internacionais de Portugal. Somos, por isto, defensores de um consenso político nesta matéria entre partidos do arco democrático que, em boa verdade, sustentaram o regime democrático e o desenvolveram, desde 1974.
4. Vistas as coisas, para a Direita Liberal, Portugal deve conduzir a sua política externa em três eixos fundamentais:
4.1. Aliança Atlântica – Vínculo político/ideológico, garante da paz e segurança no espaço Euro-Atlântico nos últimos 60 anos, consubstanciado na NATO. Naturalmente, Portugal deve assumir uma relação forte e próxima com os EUA, pois esta concede-lhe, quer uma maior projecção internacional, quer uma autonomia maior em alturas críticas no seio da União Europeia. Pode mesmo, ser um caminho para fortalecer o país no interior da UE.
4.2. União Europeia – Projecto extraordinário entre Estados europeus que, a par da Aliança Atlântica, mantem quase a totalidade do Continente europeu em estabilidade e progresso como nunca o havia conseguido. Portugal abraçou-o em 1986 e não deve abandoná-lo. Por outro lado, a integração europeia, ao consolidar a nossa democracia, permitiu, pela primeira vez na nossa secular História, projectar-nos para uma via continental, em paralelo com a tradicional linha atlântica, base das nossas alianças marítimas do séc. XIX, e em quase todo o séc. XX.
4.3. PALOP – Sem qualquer tipo de saudosismos ou refém de quaisquer complexos colonialistas – NÃO SOMOS DESSA DIREITA RETRÓGRADA – a Direita Liberal defende que Portugal deve potenciar como desígnio estratégico nacional as suas relações com os países de língua portuguesa espalhados pelo mundo. Dos pontos de vista institucional, político, diplomático, económico e cultural. Assumir que a África lusófona, o Brasil e Timor são vectores estratégicos da própria relevância de Portugal no interior da UE, enquanto interlocutor privilegiado com esses países e regiões (aqui, também o Magreb deve ser estrategicamente importante para Portugal), conduz-nos a políticas externas menos “empoeiradas” e mais realistas. Assim é a Política Internacional.
5. Para a Direita Liberal não existem alternativas à democracia liberal. Não queremos regressos ao passado nem promovemos campanhas narcisistas ou saudosistas. Não é esse o caminho que queremos para o país. Não é esse o papel que queremos que Portugal desempenhe no séc. XXI. Posto isto, Portugal deve potenciar as suas “armas” no xadrez internacional o melhor que pode e sabe. Não temos dúvidas que o conseguirá. O optimismo está-nos no sangue.
Liberalismo, um filho das luzes
HENRIQUE RAPOSO
1. Antes de mais, o “Noites à Direita”, assumindo-se como um projecto liberal, reivindica um pressuposto teórico: o Liberalismo Clássico também é um fruto ideológico do espírito iluminista do século XVIII. O Iluminismo não é monopólio das esquerdas continentais.
2. De facto, as esquerdas continentais sempre se assumiram como as únicas e exclusivas descendentes do Iluminismo. Ainda hoje, a vulgata proclama a Esquerda como filha única das Luzes. E este lugar-comum, claro, remete, de forma indiscriminada, todas as direitas para as terras escarpadas da reacção. De forma pavloviana, associa-se a expressão ser-se de direita à condescendente e automática condenação: reaccionarismo. Em Portugal, por exemplo, reaccionário continua a ser um carimbo que qualquer pessoa de direita recebe quando abre a boca para falar ou quando pega na caneta para escrever.
3. Pois bem, é tempo de meter esse carimbo no lixo. É tempo de pôr termo a esta caricatura que continua a bloquear o debate político. É tempo de terminar com o monopólio da esquerda sobre o legado dos iluminismos. É tempo de libertar a direita liberal, uma direita sem qualquer tipo de pó romântico, sem qualquer tipo de ácaro reaccionário, sem qualquer tipo de teia de aranha saudosista. Enfim, uma direita iluminista. Perguntará alguém: “mas o conceito direita iluminista não é um contra-senso?”. Quem fizer esta pergunta revelará ao mundo o seu estado de ineptidão ideológica, mostrará o seu desconhecimento pela história do pensamento e o seu provincianismo. Em suma, este inquiridor revelará que vive preso num mito. Que mito é esse? O mito que proclama o Iluminismo como propriedade privada da Esquerda.
4. Acontece que não existiu um Iluminismo mas iluminismos. Por outras palavras, o iluminismo francês de Voltaire, Diderot e Rousseau não esgotou as Luzes setecentistas. O racionalismo dogmático de Diderot e o culto da Vontade Geral de Rousseau não constituíram as únicas consubstanciações desta época. O mundo anglo-saxónico não ficou arredado do espírito iluminista. Na Escócia, figuras como David Hume ou Adam Smith desenvolveram o Iluminismo Escocês. Nos EUA, James Madison ou Alexander Hamilton criaram o Iluminismo Americano.
5. Estes projectos iluministas anglo-saxónicos não tinham as ambições desmedidas do iluminismo francês. Hume e Madison já conheciam os perigos advenientes das utopias políticas, grandiloquentes do ponto de vista moral mas desastrosas na realidade histórica concreta, grandiosas para um conceito totalitário de Homem mas intragáveis para os (verdadeiros) homens. Hume e Madison distinguiram-se como defensores da pluralidade dos homens, enfrentando as correntes monistas que insistiam (e insistem) em impor um único ideal de Homem. E para a defesa do pluralismo, desenvolveram uma predisposição epistemológica céptica, isto é, não construíram um ideal de Razão abstracto. Para Hume e Madison, a razão humana era (é) apenas um instrumento e não um bem em si mesmo. Para os iluministas anglo-saxónicos, a razão era (é) um modo de gerir o presente terreno e não uma alavanca destinada a fazer descer o céu à terra. Criaram argumentos racionais destinados a gerir a Política. Recusaram o culto de uma Razão que aproximava (e aproxima) a Política da Teologia.
5. Ora, o Liberalismo Clássico é a consubstanciação dos ideais de Hume, Smith ou Madison. Aliás, o conceito liberalismo clássico é um sinónimo de iluminismo escocês ou iluminismo americano. Portanto, é tempo de colocarmos ponto final na cómoda dicotomia entre as terras altas e legítimas dos iluministas de esquerda e as terras baixas e ilegítimas dos reaccionários de direita. À direita, também há gente iluminista.
1. Antes de mais, o “Noites à Direita”, assumindo-se como um projecto liberal, reivindica um pressuposto teórico: o Liberalismo Clássico também é um fruto ideológico do espírito iluminista do século XVIII. O Iluminismo não é monopólio das esquerdas continentais.
2. De facto, as esquerdas continentais sempre se assumiram como as únicas e exclusivas descendentes do Iluminismo. Ainda hoje, a vulgata proclama a Esquerda como filha única das Luzes. E este lugar-comum, claro, remete, de forma indiscriminada, todas as direitas para as terras escarpadas da reacção. De forma pavloviana, associa-se a expressão ser-se de direita à condescendente e automática condenação: reaccionarismo. Em Portugal, por exemplo, reaccionário continua a ser um carimbo que qualquer pessoa de direita recebe quando abre a boca para falar ou quando pega na caneta para escrever.
3. Pois bem, é tempo de meter esse carimbo no lixo. É tempo de pôr termo a esta caricatura que continua a bloquear o debate político. É tempo de terminar com o monopólio da esquerda sobre o legado dos iluminismos. É tempo de libertar a direita liberal, uma direita sem qualquer tipo de pó romântico, sem qualquer tipo de ácaro reaccionário, sem qualquer tipo de teia de aranha saudosista. Enfim, uma direita iluminista. Perguntará alguém: “mas o conceito direita iluminista não é um contra-senso?”. Quem fizer esta pergunta revelará ao mundo o seu estado de ineptidão ideológica, mostrará o seu desconhecimento pela história do pensamento e o seu provincianismo. Em suma, este inquiridor revelará que vive preso num mito. Que mito é esse? O mito que proclama o Iluminismo como propriedade privada da Esquerda.
4. Acontece que não existiu um Iluminismo mas iluminismos. Por outras palavras, o iluminismo francês de Voltaire, Diderot e Rousseau não esgotou as Luzes setecentistas. O racionalismo dogmático de Diderot e o culto da Vontade Geral de Rousseau não constituíram as únicas consubstanciações desta época. O mundo anglo-saxónico não ficou arredado do espírito iluminista. Na Escócia, figuras como David Hume ou Adam Smith desenvolveram o Iluminismo Escocês. Nos EUA, James Madison ou Alexander Hamilton criaram o Iluminismo Americano.
5. Estes projectos iluministas anglo-saxónicos não tinham as ambições desmedidas do iluminismo francês. Hume e Madison já conheciam os perigos advenientes das utopias políticas, grandiloquentes do ponto de vista moral mas desastrosas na realidade histórica concreta, grandiosas para um conceito totalitário de Homem mas intragáveis para os (verdadeiros) homens. Hume e Madison distinguiram-se como defensores da pluralidade dos homens, enfrentando as correntes monistas que insistiam (e insistem) em impor um único ideal de Homem. E para a defesa do pluralismo, desenvolveram uma predisposição epistemológica céptica, isto é, não construíram um ideal de Razão abstracto. Para Hume e Madison, a razão humana era (é) apenas um instrumento e não um bem em si mesmo. Para os iluministas anglo-saxónicos, a razão era (é) um modo de gerir o presente terreno e não uma alavanca destinada a fazer descer o céu à terra. Criaram argumentos racionais destinados a gerir a Política. Recusaram o culto de uma Razão que aproximava (e aproxima) a Política da Teologia.
5. Ora, o Liberalismo Clássico é a consubstanciação dos ideais de Hume, Smith ou Madison. Aliás, o conceito liberalismo clássico é um sinónimo de iluminismo escocês ou iluminismo americano. Portanto, é tempo de colocarmos ponto final na cómoda dicotomia entre as terras altas e legítimas dos iluministas de esquerda e as terras baixas e ilegítimas dos reaccionários de direita. À direita, também há gente iluminista.
terça-feira, junho 28, 2005
Convite pessoal mas transmissível
“Noites à Direita” tem o prazer de o convidar para participar no debate “A Direita e a Liberdade”, pelas 20h30 do próximo dia 5 de Julho, no Café Nicola, em Lisboa.
Vicente Jorge Silva é o agente provocador de uma conversa sem sentido único mas virada à direita.
O director do “Diário de Notícias”, Miguel Coutinho, vai tentar moderar as vozes de António Pires de Lima e de todos os outros convidados, incluindo a sua. Contamos consigo.
Vicente Jorge Silva é o agente provocador de uma conversa sem sentido único mas virada à direita.
O director do “Diário de Notícias”, Miguel Coutinho, vai tentar moderar as vozes de António Pires de Lima e de todos os outros convidados, incluindo a sua. Contamos consigo.
terça-feira, junho 14, 2005
Abrem brevemente
NOITES À DIREITA*
*projecto liberal
1. Está a chegar o tempo de começar a fazer alguma coisa de novo à Direita, para além dos partidos, mas nunca contra qualquer partido.
2. Está a chegar o tempo de afirmar a existência de novas direitas, que só sabem viver em Democracia e que não a trocam por nada deste mundo.
3. Está a chegar o tempo de uma Direita que não acredita em utopias, porque conhece a realidade e sabe que esta não se transforma só com boas intenções.
4. Está a chegar o tempo de uma Direita que sabe ouvir e quer discutir com quem tem espírito independente, seja de Esquerda ou de Direita, para poder avançar com novas propostas. Uma Direita que sabe que há vários tipos de liberais e o que os une é a ideia de que as decisões fundamentais sobre o modo de vida de cada um devem ser assumidas pelos indivíduos, e não pelo poder político.
5. Está a chegar o tempo de uma Direita que já não se revê em velhos costumes e bandeiras ultrapassadas, mas que também não se resigna à agenda política da Esquerda.
6. Está a chegar o tempo de uma Direita que assuma uma atitude mais liberal. Mais liberal nos costumes, na economia, na política e na sociedade, nomeadamente no modo como olha e se relaciona com os media.
7. Está a chegar o tempo de uma Direita que acredita na liberdade de cada pessoa e na responsabilidade individual como valores primeiros da Democracia.
8. Está a chegar o tempo de uma Direita que defende o princípio de que a interferência do Estado na esfera privada do cidadão deve ficar circunscrita ao mínimo indispensável.
9. Está a chegar o tempo de uma Direita que acredita no liberalismo económico como factor vital para o aumento de produtividade da economia portuguesa, essencial ao bem-estar dos cidadãos.
10. Está a chegar o tempo de uma Direita que não acredita no fim das ideologias e defende que a Democracia precisa de Esquerda e de Direita porque vive da alternância e o centro não é alternativa.